As histórias de alguns dos desaparecidos após tragédia em Brumadinho

Sebastião é motorista, Adriano é mecânico e Daiane, enfermeira. Todos têm trajetórias diferentes – mais ou menos filhos, moradores desta ou daquela cidade em Minas Gerais -, mas carregam algo em comum: trabalham para a Vale.

E agora, depois do rompimento de três barragens na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), são unidos por mais do que uma empresa. Como mais de 300 pessoas na região, Sebastião, Adriano e Daiane não dão notícias desde então.

Segundo os últimos números da Defesa Civil de Minas Gerais, divulgados na noite de domingo, 58 pessoas morreram após a tragédia. Outras 305 seguem desaparecidas.

A BBC News Brasil conversou com algumas famílias que ainda buscam seus parentes para conhecer as histórias dos que desapareceram depois da onda de lama. Leia a seguir:

Sebastião Divino Santana, 58 anos

Sebastião (à esq.) é motorista de uma empresa terceirizada contratada pela Vale – Arquivo Pessoal

Sebastião Divino Santana, 58 anos, motorista

Motorista a vida toda, Sebastião é funcionário de uma empresa terceirizada contratada pela Vale há 13 anos. A maioria de suas viagens acontecem dentro de Minas Gerais, com exceção de algumas para São Paulo ou Rio de Janeiro. O Rio era seu destino na quarta-feira, quando foi avisado de que os planos tinham mudado. Estaria em Brumadinho na sexta.

Sebastião tem três filhas e uma neta que é “extremamente apegada nele”, nas palavras da mãe, Gisele. A menina de três anos passou o domingo perguntando pelo avô, que a ajuda a mexer no tablet.

Muito presente na vida da família, ele mora perto das filhas, em Betim. Costuma fazer viagens curtas e sai de madrugada para voltar para casa no mesmo dia.

Gisele diz que está esperançosa de encontrar o pai, porque conseguiu rastrear seu celular, que ainda está funcionado. Ela mandou mensagens e ligou, mas não teve resposta

“Meu pai é o tipo de pessoa que não dá um passo sem o celular, então a chance de ele não estar soterrado é grande.”

Angélica Aparecida Ávila, 29 anos, engenheira.

Angélica conseguiu emprego na mineradora há alguns meses – Arquivo Pessoal

Angélica Aparecida Ávila, 29 anos, bióloga

Angélica trabalha na área ambiental da Vale há apenas seis meses e comemorou muito a conquista da vaga, conta seu primo, com quem ela mora em Belo Horizonte.

Sua família é de Guapé, no sul de Minas, mas ela vive na capital há seis anos. É a caçula de três irmãos.

Angélica é descrita como uma mulher alegre, organizada e amante da natureza: gosta de fazer trilhas nos fins de semana e estudou ciências biológicas em sua primeira faculdade – agora faz engenharia civil. Além do curso e do emprego, também é voluntária em ONGs, onde ajuda a construir casas para pessoas de baixa renda.

“Ela estava muito feliz por conseguir conciliar tudo. É alegre, divertida e gosta de festa”, diz sua prima Marina.

Adriano Wagner da Cruz Oliveira

Adriano é mecânico de uma empresa terceirizada que presta serviço para a Vale – Arquivo Pessoal

Adriano Wagner da Cruz Oliveira, 35 anos, mecânico

Adriano trabalha há cinco anos na Mina Córrego do Feijão, como mecânico de uma empresa terceirizada.

Morador de Belo Horizonte, ele viaja até Brumadinho, a 60 km da capital mineira, todos os dias. Casado com Nélia Mary, ele tem uma filha de 16 anos, que está grávida.

Jonis Andrei Nunes, de 48 anos, trabalha na mina há 13 anos

Jonis Nunes trabalha na mina há 13 anos – Arquivo Pessoal

Jonis Nunes, 48 anos, trabalhava com transporte de minérios

Jonis ligou para Aline, sua mulher, às 11h45 de sexta-feira para saber se ela estava bem. Como seu turno tinha começado às 7h, avisou que sairia para almoçar. Desde então, ela não conseguiu falar com ele.

Aline descreve o marido, com quem tem dois filhos, como um homem otimista e positivo – e fã de um bom churrasco. Ele trabalha na Vale há 13 anos.

Gustavo Xavier, de 29 anos, é mecânico

Gustavo Xavier, de 29 anos, voltou de férias na última quinta – Arquivo Pessoal

Gustavo Xavier, 29 anos, mecânico

Morador de Brumadinho, Gustavo havia voltado de férias na quinta-feira. Na sexta, acordou atrasado para ir à Vale, onde trabalha há nove anos.

Nas horas vagas, participa do grupo de jovens da Igreja e toca violão.

Namorando há cinco anos, ele está construindo uma casa, mas ainda falta o telhado. Tem a pesca como um de seus hobbies.

Um amigo dele que já foi localizado diz que o viu no refeitório logo antes do rompimento da barragem.

Letícia Mara Anisio Almeida, de 28 anos, é enfermeira, funcionária da Vale e tem um filho de 1 ano e 5 meses

Letícia Mara Anisio Almeida, de 28 anos, tem um filho de um ano e meio – Arquivo Pessoal

Letícia Mara Anísio Almeida, 28 anos, enfermeira

Prima de Gustavo, Letícia tornou-se funcionária de Vale há alguns meses, quando trabalhava para uma terceirizada da mineradora.

Pouco antes da barragem romper-se, ligou para babá de seu filho, de um ano e meio, para saber notícias dele e comentou que estava no refeitório.

Quando a família soube que a lama havia engolido boa parte dos escritórios da empresa, não conseguiu mais falar com ela.

André Luiz Santos, de 34 anos é operador de máquina

André Santos estava de folga na sexta, mas foi chamado para substituir um colega – Arquivo Pessoal

André Luiz Santos, 34 anos, operador de máquinas

Também primo de Gustavo e Letícia, André estava de folga na sexta-feira, mas precisou ir à mina para substituir um colega.

Tem um filho de três anos. É cunhado de Luciano, já que os primos da família se casaram.

Luciano de Almeida Rocha, 40 anos

Luciano de Almeida Rocha é montador – Arquivo Pessoal

Luciano de Almeida Rocha, 40 anos, montador

Um amigo de Luciano, que estava com ele no momento do rompimento da barragem, diz que não o viu mais depois de sair correndo para escapar da lama.

Colegas dele contaram à família que, entre o rompimento e a chegada dos rejeitos ao refeitório, passaram-se apenas trinta segundos

Daiane Caroline Silva Santos, 32 anos, é auxiliar de manutenção e havia acabado de voltar de licença maternidade - seu filho tem 4 meses.

Daiane Caroline Silva Santos tem um filho de 4 meses – Arquivo Pessoal

Daiane Caroline Silva Santos, 32 anos, trabalhava no setor administrativo da Vale

Sexta-feira era o primeiro dia de Daiane na Vale depois de sua licença-maternidade.

Sua família – a mesma de Gustavo, Letícia, André e Luciano – diz que um supervisor pediu que ela voltasse ao trabalho mais cedo, quatro meses após o nascimento de Heitor.

A última mensagem de Daiane foi uma foto do refeitório enviada à família às 12h20. Heitor é seu primeiro filho.

Júlia Dias Carneiro e Fernanda Odilla - BBC Brasil



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