Editorial: Não foi acidente, foi crime ambiental

Brumadinho, 25 de janeiro, de 2019, a data que certamente não será esquecida pelo Estado de Minas Gerais, pelo Brasil, por nenhum de nós. Apenas três anos depois do maior desastre ambiental do país, ocorrido também no estado mineiro, na cidade de Mariana, o pesadelo se repete.

Vítimas. Vidas. Humanas, animais. Perdas que não se reparam e não se esquecem. Interferência ambiental, que em alguns casos, também não serão reparadas mesmo que durante anos de investimentos e por maior que sejam os esforços realizados. A tragédia anunciada seria realmente um pesadelo? Ou o pesadelo, na realidade é fruto de um crime ambiental, de natureza catastrófica que abala, mais uma vez, a já tão sofrida, descrente, humilhada e manipulada sociedade brasileira?

Animal em meio ao lama̤al em Brumadinho РInternet

Segundo informações levantadas por toda a imprensa brasileira, assim como em Mariana, a barragem de Brumadinho, de responsabilidade da empresa Vale, antiga Vale do Rio Doce, que era uma estatal pujante brasileira e foi privatizada no dia 6 de maio de 1997, durante o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, inacreditavelmente, com financiamento subsidiado e disponibilizado aos compradores pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), era tragédia anunciada. Conforme divulgado, o risco de rompimento foi alertado durante uma reunião que deliberava sobre a licença para a continuidade dos trabalhos na barragem.

Um acidente ambiental ocorre quando não há o que se fazer. Quando as ações humanas, mesmo possuindo tecnologia de ponta, não consegue interferir. Diferente de Mariana, Brumadinho e tantos outros lugares neste país, o que identificamos e está aos olhos da sociedade e das autoridades é um crime ambiental de grandes e irreparáveis proporções, fruto da ganância e arrogância dos homens, do dinheiro, do poder e principalmente, da cultura histórica da sociedade brasileira, representada pelas instituições, pelos poderes, os governantes, do passado e do presente, os empresários, etc.

Há pouco meses, vimos a autoridade máxima do país dizer em entrevista à imprensa que não admitiria que o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) multasse os empresários que infringem a lei no campo, sendo categórico ao dizer que “este tipo de multa não vai mais existir” ou “a festa vai acabar.” A qual ‘festa’ nosso chefe de Estado se referia? A ‘festa’ que os moradores do estado mineiro estão vivendo? Dói, nos fazer refletir sobre o tema, por mais que o momento exija lucidez, união e força, é necessário realizar os apontamentos necessários não simplesmente buscando os culpados de uma tragédia sem tamanho, mas o que nos faz, como nação, agir e pensar de forma tão rasa sobre um tema importante e imprescindível para o nosso desenvolvimento industrial, mas principalmente humano.

Foto de Brumadinho/MG, antes e depois da trag̩dia РInternet

O que dizem os familiares das vítimas fatais em Mariana? O que dirão os parentes dos mortos em Brumadinho? Em tantos depoimentos emocionantes que circulam nas redes sociais, imagens e vídeos, que nos entristecem e nos causam uma profunda angústia. O que dizer a eles? O que aprendemos com o crime ambiental ocorrido há três anos? O que bastará a nós, enquanto sociedade? Oferecer um reparo moral baseado em alguma quantia de dinheiro? E o Estado? E as autoridades? E a empresa? E os empresários? Serão punidos? Puni-los irá trazer de volta as perdas do desastre? E quanto ao desastre anterior, o que eles aprenderam? Ou, com o que eles realmente se interessam?

Certamente, o povo de Brumadinho, ao começar o ano estava esperançoso por dias melhores, sentimento que se esvai com o crime ambiental que desola um país inteiro, resultado da negligência dos gananciosos que buscam infringir a lei, fugindo das inspeções necessárias e colaborando, fazendo uso da força econômica, para o enfraquecimento dos órgãos fiscalizadores que no Brasil, já são precários.

Eis que nos resta uma pergunta: Será que nossa autoridade máxima terá coragem de olhar nos olhos de algum familiar que perdeu seu ente querido e dizer “nós não iremos multar ninguém, o empresário não será mais perseguido.” Será?

Redação Tem


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