Coisas de mãe

Encontro em Piraju, nos guardados de minha mãe, o meu caderno de tarefas do 3.o ano primário. 1975, 9 anos de idade. Lá está uma redação com o título “Que temporal!”, sobre a qual minha mãe veio falar comigo quanto eu tinha quase 40. Na redação, eu e minhas irmãs havíamos ido ao clube, depois de muito insistir para que minha mãe nos liberasse. O tempo muda. Vem uma chuva forte. Eu ligo para ela e peço para que vá nos buscar. Ela responde que não porque fomos sem a concordância dela. Voltamos, então, na chuva. A moral da história é que as três ficamos gripadas e no dia seguinte, quando fez um dia ensolarado, tivemos que ficar em casa. E termina com um criativo: Que temporal! A minha mãe veio me falar que quando leu a redação ficou com peso na consciência por ter se negado a nos buscar. Eu a tranquilizei, dizendo que a maior probabilidade é que aquilo nunca tenha acontecido, que foi uma história inventada. Agora, lendo o texto, tenho certeza de que foi inventada porque não me veio na memória nenhuma lembrança sobre isso. O mais engraçado, no entanto, é que no início da redação há um recado da professora de que ela não poderia avaliar o texto porque, a meu pedido, ela não havia lido. Fico surpresa de a professora ter acatado o meu pedido. Sei lá que argumentos usei – para não difamar a mãe, talvez…

Legenda: A redação, sem correção da professora – Foto: Acervo pessoal

 

Carina Paccola

Tenho 51 anos, sou jornalista, com mestrado em ciências sociais. Recentemente, me formei também em artes visuais. Faço mosaico e comecei a pintar. Sou mãe de um rapaz de 22 anos.


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