As muitas leitoras dentro de mim

Sempre fui boa leitora. Aprendi a ler com os gibis, antes mesmo de entrar na escola. Lembro quando entendi que juntando as letras formava as palavras. Mais tarde um pouco, li a coleção de Monteiro Lobato. Na adolescência, gostava de Agatha Christie. Minha referência para leitura era minha irmã um ano mais velha. Se ela falasse “leia, que este é bom”, eu lia sem pestanejar. E se eu estivesse lendo algum livro e ela dissesse: “Este é ruim”, eu parava imediatamente. Afinal, não iria perder tempo com algo de que ela não havia gostado. Na casa dos meus avós paternos, em Lençóis Paulista, havia um quarto no subsolo com duas camas e uma estante de livros. Quando íamos pra lá no fim de semana, eu e a Lucila descíamos e passávamos a tarde lendo. Na hora de viajar de volta, escolhíamos uns livros para levar pra casa que eram devolvidos na viagem seguinte. E ainda trocávamos entre nós. Era uma coleção muito boa da Saraiva. Foi ali que eu peguei “Os meninos da Rua Paulo” e lembro de ter chorado com a história.

Coleção de Monteiro Lobato – Foto: Internet

Uma vez, ao descer para o quartinho, nos deparamos com a estante vazia. Minha avó explicou que havia doado tudo numa campanha da Semana do Livro. Lembro que nós duas ficamos muito chateadas. Não falamos nada para a minha avó, mas pensamos por que ela não tinha doado para nós…

Os Meninos da Rua Paulo, livro que me fez chorar – Foto: Internet

Foi na adolescência também que comecei a ler jornal, para obedecer um professor que dizia que era importante. Não foi muito fácil. Meu pai assinava o Estadão. Depois do almoço, eu então pegava o jornal e pensava que tinha que ler tudo. Na página 2 eu já caía no sono. Imagine…. lendo o editorial do Estadão… ahaha… Foi então que recebi uma dica de como ler jornal. Eu frequentava muito a casa da minha melhor amiga, a Fátima. Se em casa somos em 7 irmãos; na casa dela, eram 11.  Um dia, eu contei ao pai dela – que me chamava de 12ª – que eu não consegui ler jornal, que era muito difícil. Ele então me explicou: “Você tem que folhear o jornal e ler os títulos e  você só vai ler a matéria que te interessar”. Eureka! Finalmente, descobri a fórmula para ler jornal. Desde então, nunca mais parei.

Aos 20 e poucos, tentei ler Os Sertões, de Euclides da Cunha e mais ou menos repeti o método usado antes da dica do sr. Nestor. Peguei lá o livro que é fruto de uma reportagem sobre a guerra de Canudos, feita justamente para o Estadão, catei um dicionário e a cada palavra desconhecida ia conferir o significado. Ou seja, não consegui ir adiante. E então, há pouco mais de um mês, resolvi enfrentar novamente a fera. E estou adorando. Eu paro às vezes para procurar no Google a imagem de uma flor ou de uma árvore descrita por ele. Não tenho pressa. Vou saboreando a riqueza de nossa terra e de um vocabulário tão diferente do meu dia a dia.

À esquerda, Gigi, Gibi, de 1971, quando aprendi a ler. À direita, Os Sertões, de Euclides da Cunha, desafio atual de leitura – Foto: Internet

Carina Paccola

Tenho 51 anos, sou jornalista, com mestrado em ciências sociais. Recentemente, me formei também em artes visuais. Faço mosaico e comecei a pintar. Sou mãe de um rapaz de 22 anos.


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