Presidente da Anvisa diz que negou pedido para trocar bula da cloroquina

Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

O presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, reafirmou em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) nesta terça (11) que todos os estudos científicos confiáveis concluídos até hoje apontam que a cloroquina não funciona no tratamento contra a covid-19.

Barra Torres afirmou que não houve pressão do governo federal sobre a agência para a aprovação da cloroquina para o combate ao coronavírus, mas confirmou que foi levantada a possibilidade de mudar a bula da cloroquina em uma reunião de ministros. Ele confirmou que o encontro teve a presença da médica Nise Yamaguchi, que citou a minuta de um documento sobre a mudança.

“Esse documento foi comentado pela dra. Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação até uma pouco deseducada minha, de dizer que aquilo não poderia ser”, afirmou Barra Torres. “Só quem pode modificar a bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país (a Anvisa), mas desde que solicitado pelo detentor do registro.”

Ou seja, a mudança só poderia acontecer se pedida pelos laboratórios que produzem a cloroquina, se houvesse a descoberta de que o medicamento tem esse funcionamento — o que não aconteceu.

“Se a indústria descobre que o remédio tem essa função, isso representa um ganho para a sociedade e obviamente ganho de dinheiro para aquele laboratório. Então uma pessoa física propor isso não tem cabimento”, afirmou Barra Torres.

Barra Torres afirmou que não tem informações sobre quem criou o documento.

Apesar de não haver estudos clínicos que comprovem a eficácia de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina no combate ao coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro tem defendido publicamente os remédios para o que ficou conhecido como “tratamento precoce” da doença.

Embora o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em seu depoimento na semana passada, tenha dito que há um debate na comunidade científica sobre a cloroquina , na realidade não há estudos confiáveis e criteriosos, publicados em revistas de prestígio, que apontem para esse caminho.

Isso foi confirmado por Barra Torres, que afirmou: “Não há evidências que apontem para a eficácia (da cloroquina contra covid) em estudos clínicos ortodoxamente regulados, ou seja, com placebo, duplo cego e randomizados”.

Via iG Brasil