Governo pode negociar mil cargos de 2º escalão por apoio à Previdência

Voto em reforma da Previdência pode "custar até R$ 10 milhões por deputado"

Presidente entrega pessoalmente projeto ao Congresso – Foto: Divulgação

O governo do presidente Jair Bolsonaro discute com parlamentares a possibilidade de nomear mais de mil cargos de segundo escalão nos Estados como forma de ajudar o Executivo a garantir votos para aprovar a reforma da Previdência, afirmou à Reuters o secretário Especial para a Câmara dos Deputados, Carlos Manato.

Um relatório com a lista das sugestões dos parlamentares para os cargos será apresentada em breve ao presidente para que ele e os ministros das respectivas áreas decidam sobre as nomeações.

Mas após protocolar a emenda para a reforma da Previdência, o governo já avalia que aprová-la pode custar mais caro do que imaginou. Para apoiar a posposta enviada por Jair Bolsonaro ao governo, deputados devem pressionar o governo em busca de cargos e também de cotas parlamentares.

Nomeações

Ao contrário do que prometeu, o governo federal deve acabar cedendo ao “toma lá, dá cá” e à pressão para nomear deputados de siglas do chamado centrão. No início de seu mandato, Bolsonaro ignorou, em grande parte, os partidos maiores, entregando ministérios a pequenos como o DEM.

‘Cota de gasto’

A imprensa divulgou nesta semana, que deputados do centrão já estariam pensando em uma espécie de “cota de gastos” para garantir que a reforma seja aprovada. Em conversa com a publicação, o presente de um partido médio que preferiu não se manifestar indicou que a estimativa é de que cada deputado tenha direito a indicar R$ 7,5 milhões em repasses e obras. Deputados reeleitos teriam direito a R$ 10 milhões.

Texto não deveria tramitar

A ausência dos militares no projeto enviado descontentou deputados, o que significa que a aprovação pode sair cara. “Sem uma reforma que alcance também os militares, o texto apresentado não deveria sequer tramitar”, declarou o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, maior partido do centrão.

Cerca de 1 mil cargos em negociações

Segundo Carlos Manato, o presidente e os ministros vão avaliar primeiro se os cargos são estratégicos e, por isso, não passíveis de entrarem na negociação com deputados e senadores.

Se na “peneira” o cargo for considerado apto para a indicação de parlamentares, completou o secretário, os nomes terão de passar pelos seguintes critérios: ter perfil técnico, ser ficha limpa e possuir experiência para o cargo. Na lista dos pleitos, constam cargos do Dnit, Funasa, Ibama, Incra, Correios, Receita Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, superintendências da Agricultura, Conab e Geap.

Manato, que foi deputado por quatro mandatos, afirmou que a grande maioria das indicações é de funcionários de carreira, não de livre nomeação. Ele destacou que as nomeações, ao lado da discussão das emendas parlamentares, em parte atribuição também da Casa Civil, contribui para a criação de um ambiente favorável para tentar se aprovar a reforma da Previdência.

“Os deputados gostam de mostrar poder se esse pacote todo ajuda (o governo)”, disse Manato, cuja secretaria faz parte da Casa Civil. Ele avaliou que quer os deputados focados na discussão do mérito da reforma sem poder alegar outras razões para não analisar a Previdência. “Por que (o parlamentar) vai reclamar do governo?”, questionou.

O secretário disse que não considera essa forma como o tradicional “toma lá, dá cá”, forma de se fazer política rechaçada por Bolsonaro desde a campanha. “Não tem isso de toma lá, dá cá. São pessoas técnicas”, defendeu ele, que atualmente é filiado ao PSL, partido de Bolsonaro.

Após o veto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de liberar uma sala para o governo despachar, o secretário tenta garantir que o seu partido garanta uma sala para atender diretamente as demandas dos deputados dentro do Congresso.

Dificuldades

“Estamos ainda montando o segundo escalão. Não está sendo fácil”, disse à Reuters o assessor especial da Casa Civil Abelardo Lupion, ex-deputado federal que teve seis mandatos e também envolvido nas negociações dos cargos. Segundo ele, tem sido difícil convencer pessoas a topar assumir os cargos e deixar sua vida profissional.

O assessor especial afirmou que o trabalho que está sendo feito é para não se “destruir” a relação com os deputados após a votação da reforma diante do delicado tema. Ele destacou que ainda haverá conversas com governadores e até com dirigentes de partidos em busca de apoio para a Previdência.

“Está sendo feita uma coisa para não errar, não errar a mão”, disse, ao considerar ser possível votar a reforma na Câmara e no Senado até julho.

Redação Tem