Grupo faz protesto em agência da Caixa após acusação de racismo

Foto: Reprodução/Correio

Um grupo com cerca de 100 manifestantes foi até a Caixa Econômica Federal do Relógio de São Pedro, na Avenida Sete de Setembro, Centro de Salvador, na tarde desta terça-feira (26), cobrar respostas sobre o episódio de violência sofrido pelo empresário Crispim Terral, 34 anos, que foi imobilizado por um policial militar com um golpe mata-leão no último dia 19.

O PM teria atendido à ordem do gerente geral da agência, que afirma, em vídeo, que “só sai com ele [Crispim] algemado”. A ação foi gravada pela filha adolescente da vítima, que acompanhava o pai a um atendimento no banco, e já repercute em todo o país, desde a noite desta segunda-feira (25).

Liderança do coletivo CMA Hip hop, o militante Hamilton Oliveira, conhecido como DJ Branco, 37, disse que o ato foi organizado pela internet, em cerca de duas horas.

“Tínhamos que fazer hoje. Essa é uma das agências mais populares da cidade que tem uma quantidade enorme de negros, nós somos a maioria. Não podemos aceitar esse racismo institucionalizado, viemos dizer à sociedade que Crispim não está sozinho. O racismo mata o nosso povo de várias formas”, comentou.

O ato, que durou cerca de uma hora, contou com a presença de representantes do movimento negro e chamou a atenção de clientes que aguardavam no local.

Crispim contou que durante dois meses vem mantendo contato com a agência bancária para receber o comprovante de pagamento de dois cheques – um no valor de R$1 mil e outro no de R$1.056. Ambos foram devolvidos pela agência, em novembro do ano passado, sob alegação de que não havia saldo na conta para compensá-los.

‘Tentaram impedir’

O psicólogo e professor Walter Takemoto, 64, que também esteve presente no ato em defesa do empresário, afirmou que o gerente da loja pediu que não entrassem, mas, ao notar que o grupo não cederia, não impediu.

“Se tivessem impedido nossa entrada, a gente ia bloquear as entradas, seria pior. Então, o que fizemos foi entrar pacificamente e explicar aos clientes o porquê de estarmos ali, e que o que aconteceu com o Crispim foi, sim, racismo”, comentou Takemoto.

Veja o vídeo da ação:

Ainda segundo o psicólogo, a agência estava cheia no momento do ato.

“É uma agência caracterizada pela demora no atendimento, quem frequenta ali, sabe disso. Pediram que não filmássemos, mas também não aceitamos. Nosso objetivo foi mostrar o descaso com o qual administram a agência e a importância de discutir o racismo”, disse.

‘Um abuso em todos os aspectos’

Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-BA, Jerônimo Mesquita explicou que as imagens gravadas pela filha do empresário mostram uma sucessão de “abusos de poder”.

Primeiro, O advogado destacou o fato de que a exigência por algemas, por parte do gerente da Caixa, já indica um ato exagerado para a situação. “Antes mesmo de chegar à violência, aquilo já é absurdo. Há uma súmula no Supremo Tribunal Federal (STF) que diz que o uso de algemas deve ser excepcional. A vítima apenas reivindica direitos, quer esclarecimentos”.

De acordo com ele, a comissão recebeu o vídeo como forma de denúncia e já está em contato com o empresário.

“Ele é um rapaz negro, que foi tratado com aquela brutalidade, inclusive pela polícia. É injustificável, porque não aconteceria com uma mulher branca, em uma agência no Itaigara, por exemplo”, considerou o advogado, sobre as agressões físicas.

Jerônimo também comentou que o PM não poderia ter cedido ao pedido do gerente da loja, que exigiu a prisão do empresário. “Um servidor público tem o dever de se recusar a cumprir esse tipo de ordem, que chamamos de manifestamente ilegal, o policial tinha que ter se negado a cumprir. Crispim não oferecia risco à vida de ninguém ali”, concluiu.

Redação Tem com Correio 24h