- Jornalismo
- 19 de agosto de 2020
‘Nos tratem com igualdade’, pede líder do movimento da população de rua em Londrina
O Movimento Nacional da População de Rua estima que, em Londrina, já são 1.200 pessoas vivendo nessa situação.

André Luís Barbosa. 45 anos. Muito solícito, ele atendeu prontamente quando a reportagem do TEM lhe procurou para uma entrevista. Quem o ouve sem saber as razões da entrevista, dificilmente consegue imaginar que aquele homem viveu 25 anos da vida em situação de rua. Nascido e criado em Londrina, foi por aqui mesmo, sempre na região central, que ele fez da rua sua morada. André conta que saiu de casa aos 18 anos, por diversos motivos, ao longo desse tempo, sobreviveu de trabalhos informais, como cuidador de carros, e das marmitas que recebia de projetos sociais.
Foi só em 2012 que ele teve acesso as políticas de assistência social do município, que o ajudaram a sair da rua. “A partir do contato com os programas de assistência, eu voltei a estudar, terminei meus estudos. Tive contato com a organização do Movimento Nacional da População de Rua, me envolvi politicamente, comecei a entender os processos e, em 2016, me tornei o coordenador do movimento em Londrina […] as políticas públicas foram essenciais para minha mudança de vida”, relata André.

Ressocializado há cerca de quatro anos, André Luís Barbosa agora é educador social e não mora mais na rua, mas nem por isso se esquece da sua trajetória e das pessoas que ainda se encontram nessa condição. “Estamos na luta! A partir das derrotas e frustrações que tive na minha vida de rua, estou conseguindo reverter tudo isso e ajudar algumas pessoas a partir das minhas experiências negativas que se transformaram em possibilidades positivas”, conta André que tem trabalhado para que outras pessoas consigam se ressocializar como ele.
Principais reivindicações

Nesse dia de luta, o coordenador municipal do Movimento Nacional da População de Rua elenca quais as principais necessidades dessa população em Londrina. Devido a pandemia, a necessidade de acesso às condições básicas de higiene se tornou ainda mais urgente. Eles desejam ter garantido água, sabão e álcool em gel. Além disso, há necessidade alimentação digna, moradia e de garantias do direito de ir e vir. “Em alguns espaços, colocam regras que impedem a pessoa em situação de rua de transitar livremente. Isso é absurdo, nos tiram um direito básico e constitucional”, reforça André.
O Movimento também exige que as políticas públicas de assistência social cheguem a todos as pessoas que precisam porque essa dificuldade dificulta a ressocialização. “Lutamos também pelo reajuste dos recursos que são repassados pelo estado e pelo governo federal. Hoje, o orçamento que chega a Londrina é para atender cerca de 300 pessoas, mas nossa população em situação de rua já estava em 967 na última pesquisa feita em 2018. Com o agravamento das questões sociais nos últimos anos, a gente acredita que essa população já esteja em 1.200 pessoas”, explica André.
Por que o dia 19 de agosto?
O dia 19 de agosto é um marco para o Movimento Nacional da População de Rua porque nessa mesma data, 16 anos atrás, sete pessoas do grupo foram mortas pela violência policial na Praça da Sé, em São Paulo. Desde então, a data é lembrada para que outros massacres como esse não aconteçam.

André faz questão de deixar uma mensagem nesse dia para toda a população de Londrina: “A grande maioria dos moradores de rua, não nasceram na rua. Eles vieram do seio de uma família. Já pensou que, às vezes, um parente seu de segundo ou terceiro grau pode ser o morador de rua que está sendo exposto de forma sensacionalista na mídia? Quando você olhar para um morador de rua, não veja apenas um pedinte, veja um ser humano! Se ele se machucar, vai sangrar como você. Não queremos que tenham dó da gente, mas que nos tratem com igualdade”.
Fiama Heloisa - Redação Tem