Cientista de Londrina ganha prêmio considerado ‘Nobel da Agricultura’

Professora da UEL e pesquisadora da Embrapa Londrina, recebeu o Prêmio Mundial da Alimentação de 2025.

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A engenheira agrônoma e pesquisadora do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Taxonline, da Fundação Araucária, docente da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pesquisadora da Emprapa Londrina, Mariangela Hungria, foi agraciada com o Prêmio Mundial da Alimentação de 2025, o World Food Prize. Conhecido como o ‘Nobel da Agricultura’, o prêmio é uma valorização aos estudos da microbiologista no desenvolvimento de dezenas de tratamentos biológicos de sementes e de solos, que ajudam a planta a obter nutrientes por meio de bactérias do solo, alternativas biológicas para os fertilizantes químicos.

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“Eu estou muito emocionada em receber esse prêmio, porque eu jamais imaginaria, fazendo um trabalho ali no interior do Brasil, lutando com todas as dificuldades que a gente tem, achava muito improvável que isso acontecesse”, comentou a pesquisadora.

Professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), nos cursos de pós-graduação em Microbiologia e Biotecnologia e na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) do curso de Bioinformática, a cientista tem desenvolvido importantes estudos no NAPI Taxonline. Iniciativa da Fundação Araucária, o arranjo de pesquisa conta com vários projetos envolvendo as coleções biológicas, base para qualquer estudo em biodiversidade e aplicação biotecnológica.

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“Acho que a premiação foi devido à minha perseverança de 40 anos, jamais tendo desviado do caminho que eu sempre acreditei que era que a gente podia fazer uma agricultura mais sustentável, usando os biológicos em substituição parcial ou total dos insumos químicos”, ressaltou Mariangela Hungria.

Além das pesquisas no Napi Taxonline, a cientista também coordena o projeto contemplado por meio do Programa de Apoio à Consolidação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tесnologia (INCT) no Paraná.

Trajetória

Mariangela Hungria possui graduação em Engenharia Agronômica (Esalq/USP), mestrado em Solos e Nutrição de Plantas (Esalq/USP), doutorado em Ciência do Solo (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. É pesquisadora da Embrapa desde 1982, inicialmente na Embrapa Agrobiologia (Seropédica-RJ) e, desde 1991, na Embrapa Soja (Londrina).

A cientista é comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Brasileira de Ciência Agronômica e da Academia Mundial de Ciências. Mariangela atua também na Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e na Sociedade Brasileira de Microbiologia.

Fez parte do comitê coordenador do projeto N2Africa, financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates para projetos de fixação biológica do nitrogênio na África, é membro do Conselho do Comitê de Nutrição Responsável do International Fertilizer Association e parceira em projetos com praticamente todos os países da América do Sul e Caribe, além de países da Europa, Austrália, EUA e Canadá.

Em 2020, Mariangela foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo, de acordo com o estudo da Universidade de Stanford (EUA). Em 2022, a pesquisadora ocupou a primeira posição brasileira, confirmada em 2025, em Fitotecnia e Agronomia (Plant Science and Agronomy), publicado pelo Research.com, um site que oferece dados sobre contribuições científicas em nível mundial.

Já recebeu várias premiações pela sustentabilidade em agricultura, como o Frederico Menezes, Lenovo-Academia Mundial de Ciências, da Frente Parlamentar Agropecuária, da Fundação Bunge. Em 2025, recebeu o Prêmio Mulheres e Ciência, promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com o Ministério das Mulheres, o British Council e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe.

“Esse prêmio é muito importante para o Brasil e mais importante ainda para o Paraná. Porque foi aqui que eu desenvolvi esse trabalho, foi o trabalho que eu fiz aqui que ajudou a essa premiação”, conta a cientista. “Levando essa imagem de sustentabilidade que a gente tem, contrapondo a tanta gente que aponta aspectos negativos da nossa agricultura. E o Paraná é o estado que eu escolhi para viver, que eu escolhi para fazer minha carreira, que eu tenho muito orgulho. Eu vim para cá porque era um estado agrícola e eu queria fazer agricultura e uma agricultura sustentável”, destacou Mariangela.

O anúncio do Prêmio Mundial de Alimentação foi feito nesta terça-feira (13) no estado de Iowa, Estados Unidos, na sede da Fundação World Food Prize, criada por Norman Bourlaug, pai da Revolução Verde e Prêmio Nobel da Paz em 1970.

Mariangela receberá o prêmio em 23 de outubro deste ano. É a terceira vez que ele é concedido a brasileiros. Em 2006, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli dividiram o prêmio com o colega estadunidense A. Colin McClung, pelo trabalho no desenvolvimento da agricultura na região do cerrado. Em 2011, dois ex-presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e John Kufuor, de Gana, foram os escolhidos por sua atuação no combate à fome como chefes de governo.

Redação Tem Londrina com Agência UEL/AEN