Professor da UEL integra projeto internacional de Cosmologia

Projeto internacional terá telescópio capaz de mapear todo o céu visível.

Imagem: Divulgação/UEL

A 2.822 km a sudoeste de Londrina, a uma altitude de cerca de 2.700 metros acima do nível do mar, numa localidade chamada Cerro Pachón, nos Andes chilenos, está sendo construído o Observatório Vera Rubin, que terá um telescópio capaz de mapear todo o céu visível. Antes chamado de Large Synoptic Survey Telescope (LSST), o projeto mudou de nome para homenagear a astrônoma norte-americana Vera Cooper Rubin (1928-2016), pioneira no estudo das curvas de rotação de galáxias espirais (como a Via Láctea).

Uma vez pronto, o Obervatório será o fruto de um esforço internacional de organizações públicas e privadas, que envolve mais de cem astrônomos, físicos e engenheiros de todo o planeta. Entre eles, está o professor Sandro Dias Pinto Vitenti, do Departamento de Física da UEL. Ele conta que o Brasil tem participado da iniciativa desde 2014, inicialmente com ajuda financeira, principalmente com recursos federais e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Fora do Brasil, pode-se citar doações vultosas de pessoas como Bill Gates (US$ 10 milhões).

De 2018 para cá, o projeto tem demandado mais infraestrutura científica, isto é, pesquisadores com destacada expertise na área, denominados P.I. (Investidor Principal). Ao contribuir com o projeto, o Brasil garante o acesso prioritário aos dados a serem obtidos para estudos e publicações. No caso, 128 cientistas brasileiros serão diretamente beneficiados.

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Uma das pesquisas que vem sendo desenvolvida no Observatório, desde os tempos do LSST, refere-se à matéria e energia escuras. É o LSST DESC (Dark Energy Science Collaboration), que visa a elaboração e teste de ferramentas de análise. A matéria escura é um tipo de matéria ainda pouco conhecida, por ser difícil de estudar: ela não emite luz, não interage com a matéria comum nem consigo mesma.

A exemplo de outros fenômenos, ela é observada pelos seus efeitos, de natureza gravitacional, sobre a matéria visível. Por exemplo, no movimento das galáxias. De acordo com o professor Sandro, a matéria escura é uma espécie de “cimento”, sem o qual as galáxias se despedaçariam. Porém, há mais perguntas do que respostas sobre ela. Mais ainda sobre a energia escura, mais recente. Saber o que elas são, como se comportam e quais suas propriedades são alguns dos objetivos dos quais os cientistas querem se aproximar com o projeto do novo telescópio no Chile.

Cosmologia e computação

O professor Sandro não começou sua trajetória de pesquisador tendo a matéria escura como foco. Na graduação e no Mestrado, na Universidade de Brasília, ele se dedicou à Física Teórica. Já no Doutorado, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (Rio de Janeiro), ele aliou a Cosmologia à Computação. Este interesse veio desde a infância quando, no Amazonas, ele “brincava” de programador aos sete anos de idade. Depois vieram dois pós-doutorados. O primeiro, na França, pelo programa Universidade sem Fronteiras, estudando matéria primordial (que formou o universo); o segundo, na Bélgica.

O céu do Chile

Cerro Pachón foi escolhido depois de dois anos de estudo, que também cogitou a instalação no México, na Califórnia e nas Ilhas Canárias. No fim, Cerro Pachón apresentou as condições mais desejadas de tempo, número de noites claras por ano, padrões climáticos e “nitidez” necessária do ponto de vista astronômico. A pouca umidade favorece a observação por infravermelho e, no verão, a localidade fica muitas vezes acima da camada de neblina, o que é mais um fator favorável. Tanto assim que já existem outros dois observatórios astronômicos na mesma montanha, e um terceiro a apenas 10km a sudeste.

Primeira luz

Enquanto o novo telescópio no Chile não promove sua “primeira luz” (termo do jargão da área que denomina a primeira observação feita com o instrumento), o professor vem produzindo artigos a partir de simulações. Além de possibilitar análises e talvez antecipar algum resultado a ser comparado (e comprovado ou não), as simulações permitem validar as ferramentas que serão utilizadas. Os cientistas brasileiros já contam com uma biblioteca e instituições colaboradoras, como o CNPq e o Instituto de Astrofísica de Paris.

Segundo o professor, há grande expectativa: o telescópio possibilitará mapear todo o universo visível. Isso significa observar galáxias a bilhões de anos-luz. Para se ter uma ideia, o Grupo Local, onde se situa a Via Láctea, reúne cerca de 30. Mais de 4 milhões já foram mapeadas, mas estimativas falam em 1 trilhão no universo observável. A mais distante da Terra, segundo dados obtidos do telescópio James Webb, fica a mais de 13 bilhões de anos-luz. Comparado a isso, Cerro Pachón é logo ali.

Via Agência UEL