Cidades pró-Bolsonaro têm maior taxa de contágio da covid-19, diz estudo

Estudo aponta que cidades com maioria dos eleitores do presidente, respeitam menos o isolamento social.

Londrina tem a maior taxa de mortalidade no PR – Foto: Vinicius Gomes/TEM

As cidades que registram maior aprovação ao governo de Jair Bolsonaro tiveram um aumento na taxa de contágio do coronavírus 18,9% maior do que aquelas que demonstram menor apoio ao presidente. É o que mostra um estudo das universidades University of North Carolina, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e da Bocconi University, de Bocconi, na Itália.

A pesquisa analisou o impacto em 255 municípios brasileiros das atitudes de Bolsonaro desde 15 de março, quando o presidente subestimou a pandemia e cumprimentou manifestantes pró-governo em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília.

A pesquisa mostra que a alta na taxa de contaminação tem relação com o relaxamento de seus apoiadores em relação às medidas de isolamento social para conter o avanço do vírus.

Para chegar ao resultado, o estudo usou dados de cidades que tinham ao menos um caso confirmado da covid-19 e levou em conta o percentual de votos pró-Bolsonaro no primeiro e no segundo turno da eleição presidencial de 2018.

Em Londrina, por exemplo, local onde o presidente teve 80% dos votos, a taxa de isolamento social é de menos de 35%. Os óbitos na cidade também chamam atenção já que o município tem a maior taxa de mortalidade de todo estado com 6,06%, contabilizando 81 vítimas fatais do novo coronavírus e 1336 contaminados.

O prefeito Marcelo Belinati (PP) precisou ir até as redes sociais na última semana para desmentir várias fake news distribuídas para moradores da cidade relacionadas ao coronavírus.

Nos municípios com menor concentração de eleitores de Bolsonaro, o estudo aponta que o isolamento social tem maior alcance e menos infectados proporcionalmente.

Para chegar a essas conclusões, os autores da pesquisa compararam a taxa de contágio e isolamento, mas também a capacidade de cada município de testar sua população. O cálculo levou em consideração as cidades com maior PIB (Produto Interno Bruto), que tendem a fazer uma testagem maior de seus pacientes. Uma das autoras do estudo, Paula Retti, afirma que esses dados foram incluídos na conta mas que, ainda assim, a taxa de crescimento dos locais que apoiaram o presidente foi maior do que aqueles em que ele não obteve maioria dos votos, mesmo considerando a capacidade de testar os seus moradores.

Estudo mostra que defensores de presidente tendem a minimizar a doença – Foto: Reprodução

“Nós fizemos um cálculo em que consideramos as diferenças do PIB per capita e da população, que são variáveis que achamos que explicam a capacidade de testagem dos municípios e a velocidade com que o vírus se difundiria na ausência da influência do Bolsonaro. E vimos que a sua influência foi determinante no ritmo da taxa de contágio nos municípios que o apoiaram, mostrando que a maioria dos moradores desses locais acabaram seguindo as orientações do presidente”, explica.

O cientista político e sociólogo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Pereira explica que essa influência do presidente sob seus eleitores incide na parcela de seus apoiadores mais ideológicos, que continuam ao lado de Bolsonaro mesmo que tenham discordâncias em pontos específicos ou diante de situações excepcionais, como no caso de uma pandemia.

“Há uma parcela de eleitores, que não é trivial, que independente do que ocorra com o Bolsonaro vão continuar dando apoio a ele por uma questão fundamentalmente ideológica, e não racional. Essa política de Bolsonaro de minimizar a pandemia pode levar à morte de milhares de pessoas”, explica Pereira.

Ele ainda diz que “o eleitor do presidente não quer isso, mas vai tentar encontrar um mecanismo psicológico que tente minorar essa divergência e vai dizer ‘mas o Bolsonaro pelo menos está lutando contra a corrupção’ ou que ele está ‘defendendo uma política pró-mercado’.

Região de Londrina tem a pior taxa de isolamento do estado – Foto: Reprodução

E, com isso, o eleitor ideológico acha justificativas para continuar apoiando o seu representante, mesmo diante dessa situação.

Segundo o cientista político, um desses mecanismos psicológicos seria o chamado ‘custo-benefício’: o eleitor avalia a perda que vai ter confrontando o seu candidato ou o seu presidente com os ganhos das promessas que esse representante fez. De acordo com Pereira, quando se trata de apoios ideológicos, esses ganhos acabam superando as perdas.

De acordo com o estudo das universidades americana e italiana, em geral, eleitores do Bolsonaro tendem a levar a covid-19 menos a sério do que aqueles que não apoiam o presidente e cumprem com as medidas de isolamento social.

Segundo ele, a pesquisa mostra que a postura do presidente e sua capacidade de angariar os seus apoiadores, que seguem as suas palavras e não as indicações das organizações de saúde, pode se revelar catastrófica ao longo do tempo.

Redação Tem com Bocconi University