Estudo prevê 2,2 milhões de mortes por coronavírus nos EUA e Trump adota novas medidas de contenção

Previsão surpreendeu as autoridades norte americanas.

Foto: Tom Brenner/Reuters

O governo dos Estados Unidos anunciou na noite desta segunda-feira uma série de restrições para conter a pandemia do novo coronavírus em seu território, aparentemente motivado por um estudo científico que aponta para a possibilidade de 2,2 milhões de mortes nos EUA, caso não sejam tomadas medidas governamentais e individuais para conter a velocidade de transmissão da Covid-19. O mesmo estudo fez o Reino Unido mudar de posição sobre a doença.

As recomendações emitidas pela Casa Branca incluem um apelo para que os americanos evitem aglomerações com mais de 10 pessoas – medida mais restritiva que a anunciada há apenas dois dias, no domingo, que se referia a grupos com mais de 50 pessoas. O governo também recomendou que os americanos trabalhem de casa, evitem sair para fazer compras não essenciais e refeições em restaurantes.

As restrições valem para os próximos 15 dias, mas, segundo Trump, poderão ser endurecidas e prolongadas por meses, caso haja a necessidade. Alguns estados e cidades vêm implementando medidas mais duras por conta própria: em Nova Jersey, há um toque de recolher entre as 20h e 5h da manhã; em São Francisco, mais de sete milhões de pessoas foram orientadas a permanecer em casa por três semanas, saindo apenas em casos inevitáveis – orientação similar deverá ser anunciada pelo prefeito de Nova York, Bill De Blasio, nas próximas 48 horas.

Além das medidas de contenção, o governo Trump anunciou que pretende enviar remessas no valor de US$ 1.000 por pessoa nas próximas duas semanas para amortecer os efeitos da epidemia do coronavírus. Os pagamentos em dinheiro seriam parte de um plano de estímulo de US$ 850 bilhões que Mnuchin está negociando com os legisladores para lidar com o surto de coronavírus.

Segundo uma das médicas responsáveis pela força-tarefa de combate ao coronavírus da Casa Branca, Deborah Birx, a mudança de postura do governo americano é relacionada a informações levantadas por uma pesquisa do Imperial College, no Reino Unido.

“O que teve o maior impacto no modelo foi o isolamento social, não sair em grandes grupos.” disse Birx, em entrevista coletiva ao lado do presidente Trump. – A coisa mais importante é que, caso uma pessoa se contamine, que todos que moram na sua casa façam uma autoquarentena por 14 dias, porque isso reduz em 100% o contágio para fora desta casa.

Segundo a pesquisa britânica, para controlar a epidemia, serão necessárias drásticas reduções no trabalho presencial, em escolas e em reuniões sociais até que uma vacina fique disponível, o que pode levar até 18 meses. De acordo com o estudo, isto poderá ter custos enormes e afetar a saúde das pessoas, mas “é a única estratégia viável no momento atual”.

Isolamento prolongado

Em entrevista ao New York Times, o pesquisador-chefe do projeto e pesquisador de epidemiologia, Neil Ferguson, disse que seu grupo havia compartilhado suas descobertas com a Casa Branca há cerca de uma semana. O grupo também enviou ao CDC sua estimativa de mortes: entre 8% e 9% das pessoas na faixa etária mais vulnerável, acima dos 80 anos, poderá morrer se infectada.

“Nós não temos uma estratégia clara de saída. Vamos precisar suprimir este vírus por tempo indeterminado, francamente, até que tenhamos uma vacina.” afirmou Ferguson. – É uma posição difícil para o mundo estar.

O estudo simulou a eficácia de medidas de saúde pública para reduzir o contato entre as pessoas e concluiu que, para haver um impacto significativo das transmissões, são necessárias medidas múltiplas  e prolongadas de isolamento – o modelo prevê que “a transmissão voltará a crescer rapidamente caso as intervenções sejam relaxadas”. Segundo Ferguson, impactos potenciais da pandemia de Covid-19 poderão ser comparáveis ao da gripe espanhola de 1918 e deverão superlotar até mesmo sistemas de saúde de países desenvolvidos caso não sejam tomadas medidas de contenção.

De acordo com os autores, caso aplicadas por três meses, as políticas de mitigação “isolar casos suspeitos em casa, pôr as pessoas com quem tiveram contato em quarentena e separar os mais vulneráveis” poderão reduzir as mortes pela metade e cortar em dois terços a demanda de pico para o serviço de saúde nos EUA. Ainda assim, centenas de milhares de pessoas morreriam e o atendimento médico ficaria muito sobrecarregado.

Devido a isso, os autores recomendaram também medidas de distanciamento, como o trabalho remoto e o fechamento das escolas. Essas intervenções, eles sugerem, poderão ser “relaxadas temporariamente e reimpostas caso os contágios voltem a crescer”.

“Nenhuma intervenção de saúde pública com efeitos tão disruptivos para a sociedade foi previamente posta em prática por um intervalo de tempo tão longo”, diz o estudo. “Ainda não está claro como as populações e sociedades responderão”.

Redação Tem com O Globo