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Frigoríficos derrubam regra de proteção e contágio de covid dispara no PR

Pressão de empresários fez governo retirar norma de segurança aos funcionários.

Foto: Reprodução

Nesta semana, a Secretaria de Estado da Saúde (SESA) registrou o contágio de 4.744 trabalhadores de frigoríficos do Paraná, entre eles estão 27 indígenas. Desde o início da pandemia em todo o estado morreram 2.636 mortes e 102.615 foram contaminas pela covid-19.

O medo e a tensão dos trabalhadores aumentou depois que os empresários conseguiram pressionar o Governo do Estado para derrubar a Resolução n° 855, de 01 de julho, que exigia o distanciamento mínimo de 1,5 metro. A Resolução foi derrubada duas semanas depois e os frigoríficos passaram a aplicar a Portaria nº 19 de junho deste ano, do governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que exige apenas um metro de distância nas fábricas durante o período da pandemia.

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Os empresários argumentam que o distanciamento de 1,5 metro representaria uma queda de cerca de 18% na produção de carnes suína e de aves, em que o Paraná é o maior produtor do país. A indústria da carne defende a adoção do protocolo federal editado pelos ministérios da Economia, Agricultura e Saúde, que prevê a possibilidade de distanciamento inferior a um metro nos casos em que houver uso de máscaras ou equipamentos de proteção individual. Normalmente a distância entre trabalhadores nas unidades de produção é de 0,85 centímetros.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria Alimentícia do Paraná (FTIAPR), Ernane Garcia, diz que o grande número de trabalhadores contaminados pela covid-19, que deu um salto nos últimos 20 dias, é preocupante e pode piorar porque a atividade nos frigoríficos é um dos vetores de contaminação por causa dos ambientes fechados, úmidos, de pouca ventilação e aglomeração.

“Eu acredito que este número ainda pode ser maior porque as pessoas têm medo de falar que estão doentes e serem demitidas. Também as empresas dificultam o nosso acesso aos dados dos testes que vêm sendo aplicados em alguns frigoríficos alegando sigilo. Os dados que temos vêm do Ministério Público do Trabalho (MPT) que tem atuado na área”, conta Garcia.

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O salto no número do contágio foi registrado nos últimos dias, após um fábrica da BRF ter registrado na cidade de Toledo 1.138 casos confirmados e outros cinco em Carambeí, um aumento de 29% dos casos da doença nos frigoríficos do Paraná.

“A BRF começou a testagem em seus quase seis mil trabalhadores de Toledo, após acordo com o MPT e divulgou recentemente os dados. Só que a maioria das empresas, muitas delas cooperativas, não fazem os testes. Ficam jogando a responsabilidade para as prefeituras, governo do estado e o governo federal e quando o trabalhador adoece manda para uma unidade de saúde pública. Por isso que a gente não sabe de fato quantos dos 120 mil trabalhadores dos frigoríficos daqui estão contaminados”, alerta Garcia.

A preocupação entre os trabalhadores aumenta com o relaxamento nas regras da quarentena nos municípios. De acordo com o presidente da FTIAPR, os frigoríficos costumam contratar trabalhadores em até 40 cidades próximas das unidades onde estão instalados.

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“É muita gente circulando entre uma e outra cidade. Ele cita o exemplo da unidade da empresa em Rolândia, na região metropolitana de Londrina. “A gente percebe até pelos casos em Londrina, que fica perto da unidade da JBS em Rolândia, onde houve essas duas últimas mortes”, diz o dirigente. Londrina, fica apenas 24 quilômetros de Rolândia, registrou até este sábado (15) 4.312 casos e 145 mortes.

Em julho, um frigorífico de Jaguapitã, também na região metropolitana de Londrina, precisou dispensar mais de 600 funcionários por causa do coronavírus. Ao longo das testagens, mais de 100 foram positivados.

Crise econômica prejudica denúncias

Para Ernane Garcia, os trabalhadores dos frigoríficos têm medo de denunciar as condições de trabalho e os contágios pelo novo coronavírus por causa do alto índice de desemprego que já atinge 12,8 milhões de trabalhadores no país. Além disso, há muita desinformação.

“As pessoas começaram a perceber que não é uma gripezinha como disse o presidente. Elas estão vendo seus amigos e familiares morrendo ou internados. Muitos de seus companheiros de trabalho estão “sumindo”, de licença médica. Mas o medo de perder o emprego é ainda maior e, por isso não denunciam a atitude criminosa dos patrões que colocam o lucro acima da vida das pessoas”, disse Garcia.

Redação Tem com Adital


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