Rapaz morre de covid-19 por falta de leito de UTI em Londrina, diz família
Rapaz tinha 35 anos e faleceu com a doença após atendimento em dois hospitais particulares. Acusação foi feita pela esposa da vitima.
“O que está sendo noticiado é bem diferente do que o que a gente enfrentou”, declara Cristiane Makida Dionísio, professora universitária e esposa de Carlos Henrique Dioníso, 35 anos, gerente de fábrica e vítima fatal da covid-19 na última terça-feira (01), em Londrina. A declaração diz respeito ao atendimento médico prestado a Carlos, que segundo ela, teria sido insuficiente devido a falta de estrutura de dois hospitais da cidade onde o casal buscou ajuda. Ela afirma que a falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) teria atrasado o atendimento específico que Carlos precisava. “Não tem UTI. Em dois hospitais que a gente foi não tem”, acusa Cristiane.
Segundo a mulher, o marido começou a se sentir mal na quarta-feira passada, dia 26, e logo procurou atendimento médico. Como Carlos Henrique tinha anemia falciforme – uma doença grave, genética e hereditária que não tem cura -, era sempre muito cuidadoso com a saúde. Na primeira ida ao médico, já surgiu a suspeita de covid-19, mas ele foi orientado a voltar para casa e só realizar o exame no sábado (29). No domingo (30), aguardando o resultado do exame feito no dia anterior, Carlos começou a sentir fortes dores musculares e buscou ajuda médica novamente. Dessa vez, eles foram até um hospital particular. “Quando a gente chegou, a recepcionista já falou que não tinha leito para covid e que não poderia atender”, conta Cristiane. Mas Carlos piorou ainda dentro do hospital e acabou sendo encaminhado ao setor de pronto atendimento. Foi medicado e diagnosticado com uma pneumonia leve, a orientação médica foi de que ele voltasse para casa e ficasse atento aos sintomas.
Já na segunda-feira (31), as dores voltaram ainda mais intensas e Carlos estava com dificuldade para respirar, ele procurou outro hospital particular da cidade e foi internado na enfermaria. Na terça, a dificuldade para respirar aumentou e ele teve muita falta de ar. Com o agravamento do caso, ele foi encaminhado ao setor de emergência. “Ele tinha ido para a emergência porque não tinha vaga de UTI, mas ele estava muito grave. […] Passou um tempo, ele teve uma parada cardíaca, os médicos conseguiram reanimá-lo, sedaram, entubaram. O médico conversou com a gente, falou que tinha conseguido uma vaga na UTI, que tinha dado alta para alguém para subir ele porque lá não era lugar para ele ficar”, lembra Cristiane emocionada. Infelizmente, horas depois, Carlos faleceu.
Para a família, que se mudou para Londrina há cerca de um ano porque Carlos teve uma promoção no trabalho, restaram a saudade do ente querido, a admiração pela força dele de lutar pela vida até o último momento e a indignação com a precariedade da estrutura de atendimento. “Eu não quero culpar os médicos porque eles estão trabalhando numa capacidade que não dá, não tem estrutura, não tem equipe, não tem condição e é lotado…”, comenta Cristiane. “Esse relato eu espero que ajude as próximas vidas, que os órgãos públicos possam fazer alguma coisa. […] É uma família que chora, mais uma vida que não foi salva ou que poderia ter sido salva se tivesse as condições necessárias”, finaliza a esposa de Carlos Henrique.
Cristiane fez uma homenagem ao esposo nas redes sociais:
Ainda dói … dói demais … perde quem a gente ama não tem emoção mais profunda… Sei que meu amado e querido esposo…
Publicado por Cristiane Makida em Quarta-feira, 2 de setembro de 2020
🔹 Carlos deixa a esposa e uma filha de um ano. Mulher contou as lutas que ele travou durante a vida.
Publicado por Tem Londrina em Quinta-feira, 3 de setembro de 2020
Hospitais e leitos de UTI
Em nota, um dos hospitais citados na reportagem, afirma que não há falta de leitos em suas instalações. Já o outro hospital diz que no momento da solicitação não haviam vagas disponíveis nas unidades, desta forma, o paciente foi encaminhado para o setor de emergência onde recebeu todo o atendimento similar a uma unidade de tratamento intensivo. No entanto, a doença se agravou muito rápido, o que culminou em uma parada cardiorrespiratória. A Secretaria de Saúde de Londrina foi informada do caso e divulgou uma nota afirmando que não há falta de leitos na cidade, porém, na própria versão do hospital onde o rapaz foi internado, no momento da solicitação, não havia vaga de UTI disponível.
Leia as notas na íntegra:
O Evangélico enviou a seguinte nota: O paciente Carlos Henrique Dionísio deu entrada no hospital no dia 31 de agosto, com Covid positivo, pneumonia e tinha comorbidade (anemia falciforme). No dia seguinte a internação foi solicitada uma vaga de UTI. No momento da solicitação não haviam vagas disponíveis nas unidades, desta forma, o paciente foi encaminhado para o setor de emergência onde recebeu todo o atendimento similar a uma unidade de atendimento intensivo, com acompanhamento de enfermeiros, médico e monitoramento. No início da tarde do mesmo dia ele teve uma piora no quadro respiratório e foi entubado. A morte foi em decorrência de uma evolução rápida da doença, o que culminou em uma parada respiratória.
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O Hospital do Coração de Londrina informa que, diariamente, repassa à Prefeitura de Londrina todos os dados detalhados referentes à ocupação de leitos de suas duas unidades. Não há falta de leitos em nossa instituição. Dados mais apurados devem ser solicitados ao poder público municipal.
* Reportagem atualizada às 14h40.
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🔹 Após denúncia de esposa de vítima.
Publicado por Tem Londrina em Quinta-feira, 3 de setembro de 2020
Fiama Heloisa - Redação Tem