Depoimentos de familiares das vítimas emocionam CPI da Covid

O taxista carioca Márcio Nascimento e Silva emociona-se ao lembrar a morte do filho – Imagem: Agência Senado

Familiares de vítimas do novo coronavírus foram ouvidas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta segunda-feira (18). Os depoimentos emocionantes de pessoas que perderam pais, avós, mães, filhos, sensibilizou os senadores e toda a internet. Atualmente, o Brasil soma mais de 603 mil vítimas da doença.

Ao ouvir as vítimas, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a presença delas na sessão da CPI é “uma forma de se dar voz a milhares de outras famílias brasileiras que foram dilaceradas pela covid-19”.

‘Uma guerra’

Pela Região Norte, falou a enfermeira Mayra Pires Lima, de Manaus. Ela perdeu a irmã, que deixou quatro filhos, por conta do colapso no fornecimento de cilindros de oxigênio em Manaus, no início deste ano. Mayra Pires Lima iniciou seu testemunho destacando a situação de colapso enfrentada por seu Estado, o Amazonas, durante a pandemia.

A enfermeira obstetra comparou a situação enfrentada pelos profissionais de saúde no atendimento a pacientes com um cenário de guerra.

“Hoje, eu falo que vivi uma guerra, pois, muitas vezes, atendi pacientes sem proteção nenhuma”, emocionou-se.

‘Bom senso’

Durante todo o ano de 2020, lembrou Pires Lima, os profissionais de saúde com quem ela trabalha tiveram que arcar com seus equipamentos de proteção individual (EPI’s). Ela agradeceu aos amigos que em várias ocasiões arcaram com os EPI’s que ela usou. “Porque nós não tínhamos nem essas máscaras”, lembrou.

No início do ano, a enfermeira contraiu a doença. Como consequência, outros membros da família também foram infectados, entre eles, a irmã, que morreu durante o colapso no fornecimento de cilindros de oxigênio em Manaus. A irmã de Mayra deixou quatro filhos órfãos, dois deles, gêmeos, que na época tinham quatro meses. A enfermeira perdeu também um irmão para a doença.

Na avaliação da profissional, “um pouco de bom senso e um pouco de humanidade por parte dos gestores” teria dado um rumo diferente à pandemia no Estado.

‘Mimimi’

Pela Região Nordeste, falou Geovana Dulce, jovem de 19 anos. Perdeu a mãe e terá a guarda da irmã de 10 anos, sendo a nova chefe da família. Pelo Sudeste: Kátia Shirlene Castilho dos Santos. Perdeu pai e mãe. Ela acompanhou a mãe em sua internação na Prevent Senior, em São Paulo, e o tratamento com base no “kit covid”.

Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O taxista carioca Márcio Antônio do Nascimento Silva, pai de Hugo do Nascimento Silva, que morreu aos 25 anos, em decorrência da covid-19, também falou aos senadores. Ele criticou deboches de políticos e outras pessoas diante da doença e afirmou que a dor diante da morte do filho não é um “mimimi”.

Em março deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou ser preciso “enfrentar os nossos problemas” ao criticar medidas de restrição social e disse: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”

Rio de Paz

A declaração de Bolsonaro aconteceu em meio à vacinação da população a passos lentos e a um dos piores períodos da crise sanitária vivida pelo país.

Márcio Nascimento Silva ficou conhecido, no Rio, depois de protagonizar um gesto contra o desrespeito de pessoas que debochavam de um ato em memória de vítimas da covid, na praia de Copacabana.

Na ocasião, a ONG Rio de Paz havia fincado na areia cem lenços brancos em respeito aos que morreram em virtude da doença. Algumas pessoas começaram a invadir o espaço delimitado pela homenagem para derrubar os lenços. Silva passava pelo local naquele momento, pouco depois de perder o filho. O carioca foi então à areia e recolocou os objetos no lugar, mesmo sendo hostilizado pelos presentes.

“O sentimento que eu fico não é só pela dor da morte. É por tudo o que veio depois. Cada deboche, cada sorriso, cada ironia, sabe? No meu coração foi muito difícil não conseguir entender isso. Por isso, a CPI foi tão importante para mim. Acho que nós merecíamos um pedido de desculpas da maior autoridade ao país, porque não é questão política, se de partido ou de outro. Estamos falando de vidas”, disse, em lágrimas.

Máscaras

Para ele, a CPI foi fundamental para que eventuais omissões e erros fossem apurados e vidas fossem salvas. Ele acrescentou que quem fala que a CPI é um circo “não se importa com as pessoas que morreram”.

Ele questionou, ainda, o motivo pelo qual tantas pessoas se opõem às máscaras e às vacinas, e disse que “daria tudo” para que seu filho tivesse tido a chance de ser vacinado. Quando ele se infectou e morreu, ainda não havia vacina disponível, lembrou.

Redação TEM com Correio do Brasil