População brasileira tem sido tratada como rebanho, diz ex-presidente da Anvisa

Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

O ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e médico sanitarista Claudio Maierovitch afirmou nesta sexta-feira (11) que o governo federal tem tratado a população brasileira como “rebanho” ao propor a imunidade coletiva.

“Não somos rebanho, não existe nenhum coletivo da palavra ‘pessoa’ ou ‘gente’ que seja traduzido como rebanho. Temos muitos coletivos no nosso dicionário e rebanho não é um deles. Rebanho se aplica a animais e fomos tratados dessa forma”, criticou ele durante depoimento na CPI da Covid, que investiga ações e omissões do governo federal durante a pandemia.

Acredito que a população brasileira tem sido tratada dessa forma [como rebanho] ao se tentar produzir imunidade de rebanho às custas de vidas humanas”, disse.

“Infelizmente o governo brasileiro se manteve na posição de produzir imunidade de rebanho com essa conotação toda para nossa população ao invés de adotar as medidas reconhecidas pela ciência para enfrentar essa crise”, afirmou Maierovitch.

Uma das linhas de investigação dos senadores na CPI da Covid é se o presidente Jair Bolsonaro teria intencionalmente adotado a estratégia de tentar atingir imunidade de rebanho sem vacinas. A estratégia foi levantada como possibilidade no início da pandemia e consiste em tentar atingir imunidade de grupo — quando a maioria da população têm anticorpos contra o vírus — sem vacinas, através da contaminação do maior número possível de pessoas.

Em pouco tempo, no entanto, estudos mostraram que a consequência dessa estratégia eram milhares de mortes. Embora o ministério da Saúde nunca tenha oficialmente adotado a estratégia de imunidade de rebanho sem vacinas, o presidente Jair Bolsonaro disse diversas vezes que a contaminação da maioria da população era inevitável e que “ajudaria a não proliferar” a doença.

CPI da Covid

A Comissão Parlamentar de Inquérito foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria é independente ou de oposição), investiga ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Tem prazo inicial (prorrogável) de 90 dias. Seu relatório final será enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.

Redação Tem com UOL