Ballet de Londrina se apresenta neste sábado no Festival de Dança

Imagem: Divulgação

Para comemorar os trinta anos de trabalho ininterrupto e sua trajetória de sucesso, o Ballet de Londrina apresenta pela primeira vez na cidade, neste sábado (14), dentro da programação do Festival de Dança 2023, o programa “Humana Natureza”, composto pelas montagens “Cinco” e “Bora!”, ambas coreografadas por Henrique Rodovalho. Juntos, os dois espetáculos remetem à trajetória da raça humana sobre o planeta, desde a origem da vida a partir dos elementos naturais, no primeiro, até a entrada na civilização e o salto para a virtualidade. O elenco entra em cena às 20 horas, no Teatro Ouro Verde.

Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 e podem ser adquiridos antecipadamente pela plataforma Sympla ou diretamente na bilheteria do Ouro Verde (43 3322-6381).

A ideia para o projeto nasceu do fim para o começo. Em 2022, Rodovalho aceitou o convite para coreografar os dez bailarinos e, de suas investigações sobre as relações humanas no nosso tempo, marcadas pela pós-pandemia, surgiu “Bora!”, que considera um de seus espetáculos mais leves e alegres, um chamado para ir adiante – como propõe a interjeição do título. Mas também lança a enigmática pergunta: avançar para onde? Por meio desta aparente contradição, faz um estudo irônico e irreverente sobre o movimento do homem na pós-modernidade — contexto do fim das utopias e das relações líquidas.

Animada pela música eletrônica do compositor japonês Aoki Takamasa e do multiartista português Komet, a coreografia contagia, apresentando-se, em alguns momentos, como uma sequência de fotografias cinéticas que revelam a fragilidade dos afetos no século XXI, entre o desejo de pertencimento e a necessidade de manter a individualidade. É possível identificar o “efeito manada” das redes sociais, que, ao mesmo tempo que garantem o sentimento de integração com grupos de pensamento parecido, é o ambiente da solidão, dos cancelamentos, das bolhas e dos haters.

O cenário, assinado pelo coreógrafo e por Renato Forin Jr., leva ao palco estruturas luminosas que contornam um vazio branco reflexivo. Ele remete à imensidão do espaço virtual, como se os bailarinos dançassem sobre uma grande tela. Num átimo, os limites deste quadro se quebram e os movimentos do elenco contornam os leds, que flutuam em outro não-espaço – o da nuvem. Em contraste à dimensão espacial asséptica, tecnológica, os figurinos de Cássio Brasil, de São Paulo, trazem cores quentes, entre o ocre e o alaranjado, que apelam para a sedução do calor humano. Os cortes e as formas lembram a urbanidade e a juventude.

“Cinco”

Indagar sobre o comportamento humano na contemporaneidade, quando parece haver um aprofundamento radical no estado de civilização, fez Henrique Rodovalho pensar também no extremo oposto, ou seja, nos impulsos que a espécie traria do estado de natureza. Em um segundo convite para coreografar o Ballet de Londrina, em 2023, agora com um elenco mais enxuto, de apenas cinco bailarinos, o artista aborda, então, a origem da vida. Por meio de uma dramaturgia de movimento mais abstrata, o espetáculo perscruta a energia dos quatro elementos naturais — a água, a terra, o fogo e o ar — passando pelas formas animais em evolução até chegar à quintessência humana.

Desde a primeira cena, que explora basicamente o plano baixo, percebemos corpos que se desconstroem para habitar outro estado físico, outra energia, outra forma. Uma bailarina escoa pelo espaço vazio até se integrar aos seus iguais – feito molécula, feito matéria orgânica que procura outra para se tornar complexa, feito gota que deseja ser onda. Progressivamente, a geografia dos corpos ganha novos relevos, conquista o plano alto, e perpassa as demais fases, além da líquida: a aspereza do solo, a pura energia ígnea, a volatilidade aérea. O surgimento do homem a partir da interação alquímica destes elementos é revelado como fotografias de um álbum de família, nostálgico, de um tempo de que já não temos memória, mas que está registrado, como pintura rupestre, na escadaria do DNA.

Há nos movimentos um conceito que subverte a simples sincronia, mas esta aparece ocasionalmente como resultado de ondas de fluidez que levam o espectador a olhar não o corpo individual, mas a massa conjunta que se move — como convém à fase natural, antes da individuação. Um desafio técnico que reverbera a trilha sonora, também sem compasso demarcado, que serve mais como eco sonoro desta paisagem visual.

“Bora!”

Chega, então, na segunda parte, para esclarecer o estágio no qual viemos parar e para fazer refletir sobre os elos sutis entre o milenar e o contemporâneo: da vida que nasce na água às relações líquidas; da molécula “que diz sim a outra molécula” ao indivíduo que precisa do outro, do grupo, para se integrar; da violência que se faz presente em um e em outro momento. Em “Cinco”, Rodovalho sela nova parceria com Cássio Brasil, que veste o elenco com segundas peles também elementares, em cores frias, orgânicas, concentradas no seu conjunto – numa oposição radical às personas individuais que virão com cores quentes na sequência. Entre as duas coreografias, há um intervalo ativo que deve instigar a curiosidade do público.

Redação Tem Londrina com FDL



Você tem que estar por dentro!
Assine nossa Newsletter e receba notícias e novidades no seu e-mail