Espetáculo traz a escuridão dos iletrados para o Festival de Dança
Apresentação será nesta sexta-feira.
Não saber ler em pleno século XXI. A limitante condição serve de inspiração para o espetáculo “Ledores no Breu”, que a Cia. do Tijolo, de São Paulo, apresenta nesta sexta-feira (13), na Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL, como parte da programação do Festival de Dança de Londrina 2023. A montagem, baseada no texto “Confissão de Caboclo”, do poeta paraibano Zé da Luz, e no pensamento e prática do educador Paulo Freire, tem direção de Rodrigo Mercadante, também responsável pela dramaturgia, ao lado de Dinho Lima Flor, que está em cena junto da atriz Patrícia Gifford. Pela primeira vez em Londrina, a montagem do grupo paulistano coloca-se no centro da linha curatorial do Festival deste ano: os vínculos entre arte e educação.
Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 e podem ser adquiridos antecipadamente pela plataforma Sympla ou diretamente na bilheteria do Ouro Verde (43 3322-6381).
Como no texto de Zé da Luz, em que um “caboclo” analfabeto mata sua mulher motivado por um grande equívoco, por não ter condições de ler a carta que ela entregaria a outro homem declarando seu amor pelo marido, o espetáculo trata das relações entre as pessoas sem leitura e sem escrita com o mundo ao seu redor. Histórias entrelaçadas que acompanham analfabetos vivendo na era da informação, homens percorrendo distâncias para elucidar suas dúvidas, seus erros e seus crimes.
Ler sem compreender
A montagem nos lembra que são muitos os ledores no breu. Há o homem que não lê, que habita a escuridão e por isso mesmo é capaz de assassinar o bem maior de sua vida. Há também o homem que lê, mas não consegue interpretar o texto, perdendo-se num mar de palavras sem sentido. E há aqueles que leem as palavras, mas não leem o mundo.
Nessas esferas de apreensão e criação do conhecimento, circulam os ledores no breu de que trata o espetáculo, em uma reflexão sobre as consequências do analfabetismo e, principalmente, do analfabetismo funcional. A partir de textos de Paulo Freire, Lêdo Ivo, Zé da Luz, Patativa do Assaré, Luiz Fernando Veríssimo, Frei Betto e canções de Cartola, Jackson do Pandeiro e Chico César, figuras se cruzam, histórias se embaraçam e tecem as trajetórias dessas vítimas do crime de não saber ler.
O grupo
Criada em 2008, a Cia. do Tijolo foi formada pelo encontro de artistas de dois tradicionais grupos de teatro de São Paulo: o Teatro Ventoforte e a Cia. São Jorge de Variedades. O grupo trabalha tradicionalmente com a poesia como forma de discurso teatral. Ao longo de sua trajetória, ocuparam-se da vida e obra de personalidades que transformaram suas vivências cotidianas em experiências humanas universais, buscando uma profunda relação com seu tempo e sua terra – a exemplo de Patativa do Assaré, Federico Garcia Lorca, Dom Helder Câmara e, agora, Paulo Freire.
Redação Tem Londrina com FDL