“Black face”: por que pessoas brancas pintarem o rosto de preto é um problema?

Publicação nas redes sociais do NRE de Londrina levantou questionamento depois que uma professora branca pintou o rosto de preto.

Foto com ‘black face’ gerou polêmica e Núcleo Regional de Educação apagou postagem – Foto: Colaboração/TemWhats

Na última semana, uma postagem nas redes sociais do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Londrina causou polêmica e revolta do Movimento Negro da cidade e de pessoas ligadas às questões afro-brasileiras. No post, era possível ver a foto da diretora de uma escola (uma mulher branca) vestida de homem e com o rosto pintado de preto. Na legenda, dizia se tratar de um trabalho escolar no qual a professora estaria representando “o primeiro palhaço negro brasileiro, Benjamin de Oliveira que revolucionou o Circo e o Teatro no Brasil”.

O problema é que o ato de uma pessoa branca pintar o rosto de preto, conhecido como black face, é considerado uma prática racista. Com a repercussão, o NRE de Londrina excluiu a postagem. Por meio de nota, o Núcleo informou que “foi informado tanto para a direção da escola
quanto a equipe que postou a mensagem que, uma imagem descontextualizada afeta de forma negativa a população negra. Desta forma, a equipe de mídias criará estratégias de modo a evitar a ocorrência desse tipo de falha”.

Apesar da polêmica, e do black face já ser conhecido como uma prática racista há muito tempo, ainda têm pessoas que não entendem o porquê do ato ser considerado ofensivo à população negra. Por isso, a equipe TEM conversou com a professora e Gestora de Promoção da Igualdade Racial em Londrina, Maria de Fátima Beraldo, para entender os problemas do black face.

Por que o black face é um erro?

O black face é uma prática preconceituosa que se sustenta na inferiorização da pessoa negra, tratando-a de forma caricata. O Movimento Negro se opõe veementemente ao black face porque essa prática se propõe a tratar o negro como um tipo malandro, desajustado e que vive na malandragem. É um movimento surgido nos Estados Unidos e a sociedade branca artística pintava o rosto de preto para representar os tipos malandros e malfeitores. No Brasil, é uma prática que, também, foi bastante difundida no meio artístico, representando tipos caricatos na sociedade, sempre com o objetivo de desqualificar e inferiorizar o negro. Portanto, o Movimento Negro rechaça essa forma de discriminação com a população negra e a considera uma situação de racismo que deve ser banida para sempre.

Por que, mesmo com toda a discussão que já houve sobre isso, as pessoas ainda não entendem o black face como algo racista?

No Brasil, o racismo está intrinsicamente vinculado a um legado perverso que foi o período da escravidão e a forma como o Estado brasileiro tratou, ou melhor dizendo, não tratou e continua tratando o que foi esse sistema de mercantilização de corpos negros sequestrados de Àfrica para o trabalho forçado em terras brasileiras. E à medida que o Estado deixa de reconhecer a responsabilidade que tem sobre o que foi o processo escravagista e seus desdobramentos, permite que se construa um comportamento nacional de naturalização do racismo.

Foto: Reprodução

Ou seja, é preciso uma mudança prática que parta do próprio Estado para que possamos mudar, efetivamente, o nosso comportamento enquanto sociedade?

Sim, porque o consentimento do Estado, ainda que aconteça de forma indireta, torna a imagem do negro carregada de estereótipos e preconceitos e essa ideia, que alimenta e é alimentada pelas práticas cotidianas, presente no imaginário coletivo, também, atravessa e modifica as relações de cada brasileiro. Neste sentido, é necessário refletir com bastante responsabilidade o que cada um reproduz enquanto cidadão nos diferentes espaços de atuação.

Fiama Heloisa - Redação Tem