LEC aprova transformação de clube em empresa; SM pode se tornar dono
O Conselho Deliberativo do Londrina Esporte Clube aprovou na última segunda-feira (02), durante reunião extraordinária, transformar, ainda que futuramente, o clube em empresa. Uma comissão de cinco conselheiros foi montada para estudar a viabilidade ou não do projeto, além dos modelos que poderiam ser criados em um possível novo formato. Para que haja uma aprovação definitiva da mudança, é necessário que o tema seja votado em assembleia geral entre os sócios do clube.
A intenção seria alterar o cadastro jurídico do LEC para Sociedade Anônima (S/A), podendo assim, atrair investidores ou compradores. Com a mudança, o Londrina poderia passar a se chamar ‘Londrina S/A’ e ter um dono, ou vários donos, dependendo do formato escolhido. Com a medida, o Londrina também poderá perder, no futuro, parte das caraterísticas de clube associativo, sem a possibilidade de manter sócios remidos, conselhos ou diretoria executiva. As decisões seriam, neste caso, tomadas apenas pelos donos ou sócios-proprietários.
De acordo com a diretoria do clube o processo ainda estaria em análise. A comissão deve contratar uma consultoria para avaliar as possibilidades. Para os dirigentes, a transformação do LEC em clube-empresa, possibilitaria ao time maior atração de investimentos futuros.
A análise, porém, não tem data definida e prazo para ser finalizada.
Malucelli poderá se tornar sócio majoritário
O gestor de futebol do Londrina Esporte Clube, dono da empresa SM Sports, demonstrou durante uma entrevista à Rádio Paiquerê, no último domingo (01), o desejo de que o LEC se torne uma empresa. Sérgio apontou que poderia ter interesse em ser sócio-proprietário caso a instituição se torne uma empresa com capital aberto. Ele afirma que não tem pretensões de renovar o contrato vigente.
Hoje, a SM Sports, empresa que atua com negociações de atletas de alto rendimento no futebol, tem a concessão de 10 anos firmada com LEC até dezembro de 2020, para cuidar apenas da gestão de futebol da entidade. Outros esportes, serviços e a parte administrativa são geridos pelo clube.
CT e polêmicas
Desde que assumiu a gestão de futebol do LEC, através da SM Sports, o empresário Sérgio Malucelli iniciou a construção de um Centro de Treinamento (CT) de alto padrão na cidade, situado próximo ao Patrimônio Selva, na saída para Curitiba. Hoje, custando milhões (segundo o próprio gestor), o centro esportivo é um dos mais completos do país e tem uma estrutura de invejar até grandes times da Série A.
Apesar da belíssima campanha trazendo o futebol do Londrina de volta à Série B do Campeonato Brasileiro, após uma espetacular arrancada saindo da Série D, passando por títulos como Campeonato Paranaense e Primeira Liga, o gestor e a grande maioria dos torcedores vivem em queda de braços. As declarações sempre muito ácidas de Malucelli, causaram, nos últimos anos, um desgaste entre a torcida, o clube e principalmente o trabalho realizado por sua empresa à frente do LEC.
Torcida é contra empresa
Na internet e em grupos de torcedores do Tubarão, muitos demonstraram descontamento e revolta com a notícia.
O estudante de direito Flávio Sanches, sócio-torcedor do LEC, afirmou que a proposta tira o caráter de comunidade e simbolismo que o clube tem com a cidade e a torcida: “O Londrina representa a nossa cidade, simboliza a nossa comunidade. Com um clube você pode cobrar diretores, conselheiros, sócios, jogadores, etc. Se o time for de um dono, ele vai fazer o que bem quiser, essa é a verdade. Você vai cobrar quem?”, argumentou.
Para outros, também há o medo de que um possível investidor compre o Londrina e revenda-o futuramente. Em alguns casos no país e no mundo, investidores trocaram as cores do clube, escudo e até mesmo a cidade de origem. “Isso dá medo, seria terrível. Imagina? Você vai torcer para a empresa do fulano de tal. Sou totalmente contra”, disse um torcedor, na internet.
Caso Figueirense
Críticos do modelo de clube-empresas no futebol, citam a equipe do Figueirense como exemplo mais recente de que estes modelos podem prejudicar os clubes ao invés de ajudá-los.
A equipe catarinense foi vendida para a holding Elephant, em 2017. A empresa comprou 95% de uma companhia criada para administrar o futebol do clube.
Acontece que desde de fevereiro de 2018, os investidores não pagam funcionários e jogadores. A equipe passa por uma crise, em que atletas chegaram a não entrar em campo na partida contra o Cuiabá, válida pela Série B. Com o W.O. e a grave crise financeira, o time está ameaçado de cair para a terceira divisão nacional.
Os gestores da Elephant, desde então, não se manifestam sobre o caso. O clube que ainda mantém um Conselho Deliberativo (enquanto a lei não é alterada no Congresso) já fez exigências para que a empresa cumpra com o pagamento dos salários atrasados, o que ainda não ocorreu.
Forcinha do Congresso
Para que a medida possa ocorrer, no entanto, é necessário que o Congresso vote um projeto relacionado ao tema.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), encaminhou no mês de julho, para análise, um projeto que visa transformar os clubes brasileiros em empresas. Maia, que também é autor do projeto, afirma que pretende dar andamento na matéria que pode viabilizar a entrada de capital estrangeiro no futebol brasileiro, ou seja, venda dos clubes do Brasil para empresas e empresários de outros países.
A medida autorizaria, por exemplo, que os empresários que já realizam investimentos em clubes, possam comprar parte de ações e se tornem sócio-proprietários das equipes.
Segundo o parlamentar, há uma conversa com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre um possível parcelamento de dívidas das equipes e incentivos para que ser empresa ofereça mais vantagens do que ser um clube com modelo associativo.
Hoje, no modelo atual, não é permitido que um clube se torne integralmente empresa, no entanto, com a aprovação da lei, a prática se tornaria legal.
Brasil e os ‘clube-empresas’
Confira abaixo uma relação de clubes-empresa no Brasil:
Ferroviária S/A (São Paulo)
Red Bull Brasil (São Paulo)
Clube Atlético Tubarão (Santa Catarina)
Grêmio Osasco Audax (São Paulo) – antigo Pão de Açúcar Esporte Clube
Audax Rio (Rio de Janeiro) – antigo Sendas Esporte Clube
AZURIZ/ACEF (Paraná)
Brasília Futebol Clube (Distrito Federal)
Atlético Cearense (Ceará) – antigo Uniclinic Atlético Clube
União São João de Araras (São Paulo) [extinto]
Malutrom S/A (Paraná) [extinto]
EC Santo André (São Paulo)
Grêmio Barueri (São Paulo)
Guaratinguetá Futebol Ltda (São Paulo)
Tombense Futebol Clube (Minas Gerais)
J.Malucelli Futebol S/A (Paraná)
Grêmio Prudente Futebol Clube Ltda (São Paulo) [extinto]
Americana Futebol Ltda (São Paulo)
Operário Futebol Clube de Várzea Grande (Mato Grosso)
Bolamense Futebol Clube (Distrito Federal)
Brasiliense Futebol Clube (Distrito Federal)
Botafogo Futebol Clube SA (Ribeirão Preto)
Figueirense ltda (Santa Catarina)
Clube Atlético Bragantino (São Paulo)
André Duarte - Redação Tem