‘Espera angustiante’, diz família de Matheus sobre demora no julgamento

Durante ato, violência policial também foi denunciada.

Ato foi realizado no local onde o crime aconteceu – Imagem: Pâmela Gonçalves

O fim da tarde desta terça-feira (16) foi marcado por um ato de protesto no bairro Jerônimo Nogueira, Zona Norte de Londrina. “Justiça para Matheus” era a frase principal falada pelos manifestantes. Eles estavam ali denunciando a demora jurídica no caso de Matheus Evangelista, jovem negro morto com um tiro durante abordagem da Guarda Municipal em março de 2018.

Nesta quarta-feira (17), devia acontecer o julgamento do acusado de ter dado o disparo, o ex-GM Fernando Neves, porém foi adiado pela quarta vez. “É um notícia muito difícil de se receber [a do adiamento]. Como trabalhadora da área da saúde, eu entendo que o momento é crítico devido a pandemia, mas para a família é muito difícil. A gente esperava que isso ia se resolver, porém agora vamos ter que continuar esperando. É muito angustiante”, desabafa Jeniffer Evangelista, irmã de Matheus.

A proposta do ato foi realizar uma cerimônia inter-religiosa com a presença de uma mãe e pai de santo, um padre e uma pastora. Todos eles denunciaram a impunidade do caso e também a realidade de genocídio que é vivida pelos jovens negros da periferia. “A cada 23 minutos, o corpo de um jovem negro é tombado de forma violenta neste país. Infelizmente, o caso de Matheus não é único. São famílias que choram, mães pretas que convivem com o desespero diário de não saber se seus filhos voltarão vivos para casa”, denunciou a mãe de santo Cláudia Ykandaiô.

Faixas e cartazes traziam o pedido “Justiça para Matheus” – Imagem: Pâmela Gonçalves

Célia Ferreira é uma dessas mães. Mulher negra, ela tem três filhos adolescentes e é moradora do bairro em que a morte de Matheus aconteceu. No dia do crime, ela presenciou parte do que ocorreu e denuncia que foi abuso de autoridade. “Naquele dia, tinha acontecido a festa de uma menina de 15 anos. Quando os guardas chegaram a festa já tinha até acabado, os meninos estavam sentados na calçada, não tinha barulho, não tinha nada de errado. Mesmo assim, eles chegaram atirando e aconteceu tudo que vocês já sabem com o menino [Matheus]. Mas, por aqui é assim: primeiro atiram para depois perguntar quem é”, diz.

Para ela, o ato desta terça é um pedido de justiça por Matheus e também por uma mudança de comportamento nas abordagens policiais nos bairros da periferia. “A nossa fala não é contra a polícia ou a guarda, nós precisamos deles, o trabalho deles é para nos proteger. Nós somos contra a forma violenta que eles atuam. Não somos contra a polícia, somos contra a tortura”, finaliza.

Fiama Heloisa - Redação Tem



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