Uma carona com McFly
E se Marty McFly estacionasse o Delorean na sua frente e o convidasse para uma viagem no tempo, rumo à Alemanha de 1933, num cenário em que faltasse apenas um voto no parlamento para impedir a ascensão de Adolf Hitler ao poder e esse voto coubesse a você? Uma viagem a Paris e no dia seguinte Hitler seria o primeiro ministro. Uma abstenção/omissão justificada por não gostar da outra alternativa e o resultado seria idêntico. O voto contrário teria barrado os nazistas e o genocídio. Este que vos escreve não teria dúvida: votaria contra Hitler sem vacilar. Não seria “uma escolha muito difícil”. A lembrança do protagonista do filme “De volta para o futuro”, o filme de ficção científica que mexe com o sonho de modificar o futuro mexendo no passado não é por acaso. O fetiche de viajar no tempo alimenta o nosso eterno “e se…” que poderia tornar o mundo melhor.
No Brasil de 2022 não é preciso ter uma máquina do tempo na forma de um Delorean para imaginar o que pode acontecer no futuro. Aliás, nem os alemães de 1933 poderiam alegar ignorância com relação a Hitler. Quando o líder nazista assumiu o governo o seu livro Mein Kampf já tinha sido publicado. A publicação aconteceu oito anos antes, em 1925, e todas as intenções de Hitler já estavam ali de forma clara.
Em outubro de 2022 não é preciso uma máquina do tempo para saber como será o Brasil na eventualidade de um segundo mandato de Jair Bolsonaro na presidência da República. A negligência frente à pandemia, o descumprimento sistemático das leis, a truculência, a política de arrochar o salário desvinculando os reajustes dos índices da inflação, a destruição da Amazônia, a destruição da saúde e da educação públicas sincronizada com a intenção de tirar despesas de saúde e educação da dedução do imposto de renda, tudo isso já está sobre a mesa. Além, é claro, da intenção de aumentar de 11 para 15 o número de ministros do STF para ter “maioria”. Esses são apenas alguns dos capítulos do Mein Kampf de Bolsonaro. Não é aceitável alegar ignorância. Aliás, a vida pregressa de Bolsonaro já desautorizava essa alegação em 2018.
Bolsonaro pode até querer a ditadura pela ditadura. Mas a parte da elite comprometida que o apoia quer ditadura porque essa é a única forma de conseguir implantar o programa de governo do bolsonarismo, que mistura arrocho salarial, mais empobrecimento e precarização do trabalho, mais fome e mais miséria com violência, repressão e criminalização da pobreza – e de todos os adversários. Um programa que dificilmente seria implantado numa democracia e que é indefensável numa campanha eleitoral.
Cada um de nós tem a chance única de impedir a ascensão da versão brasileira de Hitler sem ter que pedir carona a McFly. O Brasil tem a chance de barrar os nazistas no voto, sem ter que sofrer as consequências da consolidação de uma ditadura que já se desenha com nitidez no horizonte.
Não podemos mudar o passado – só os mentirosos “conseguem” fazer isso. Mas o futuro está em nossas mãos.
Texto de Opinião do jornalista Fábio Silveira.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Tem Londrina.
Fábio Silveira - Jornalista