Abraham Weintraub é demitido do Ministério da Educação

Ministro não tinha mais sustentação no cargo – Foto: Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira (18) a demissão de Abraham Weintraub do Ministério da Educação.

A queda foi confirmada em um vídeo publicado em rede social em que os dois comunicam a exoneração.

Na gravação, Weintraub disse que “desta vez é verdade” a sua saída. “Não quero discutir os motivos de minha saída”, afirmou. Ele disse ter recebido um convite, referendado por Bolsonaro, para ser um dos diretores no Banco Mundial.

Bolsonaro falou pouco sobre Weintraub. Apenas disse que é um “momento difícil”. “A confiança você não compra, você adquire”, disse.

O presidente não queria demitir o ministro, que tem boa aceitação na militância mais alinhada ao governo exatamente pelo perfil combativo que tem nas redes sociais.

“Todos que estão me ouvindo agora são maiores de idade e sabem o que o Brasil está passando, e o momento é de confiança. Jamais deixaremos de lutar por liberdade, eu faço o que o povo quiser”, disse Bolsonaro ao fim do vídeo.

Não foi anunciado um sucessor no comando do MEC. Weintraub afirmou que participará de uma transição no cargo.

“Vou começar a transição agora e nos próximos dias eu passo o bastão para o ministro que vai ficar no meu lugar, interino ou definitivo”, disse Weintraub, que preferiu ler um texto a falar de improviso.

Na despedida, ele não falou de educação ou de alguma realização de pasta que comandou desde abril de 2019.

Após 14 meses e 10 dias em que acumulou polêmicas e pouco realizou no Ministério da Educação, Weintraub cai em decorrência de um longo desgaste político com os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), agravado com o episódio do último domingo (14) em que compareceu a um protesto em Brasília de apoiadores do governo.

No encontro com manifestantes, sem citar ministros do STF, Weintraub voltou a usar a palavra “vagabundos”, em uma referência a afirmação dele na reunião ministerial de 22 de abril, em que disse: “Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”.​

As declarações provocaram uma reação do Supremo, que nos bastidores cobrava a demissão do ministro. Sua permanência ficou insustentável e a saída passou a ser defendida pelo entorno de Bolsonaro, que sofria pressão dos filhos para mantê-lo no MEC.

Na segunda-feira (15), em entrevista à Band News pouco depois de uma reunião com Weintraub, Bolsonaro afirmou que seu aliado não foi “muito prudente” nem deu “um bom recado” ao ter participado da manifestação em Brasília no dia anterior.

Weintraub é alvo do inquérito das fake news, que tramita no Supremo, e também de uma investigação no tribunal por racismo por ter publicado um comentário sobre a China.

Na primeira investigação, ele teve negado nesta quarta-feira (17), por 9 votos a 1, um pedido de habeas corpus ao STF para ser excluído do caso.

Sua queda é mais um capítulo da crise envolvendo o governo e o STF.

Desde o mês passado, a cúpula militar e uma ala do governo considerada técnica vinham tentando convencer Bolsonaro de que a saída de Weintraub era necessária para arrefecer o clima beligerante entre os Poderes, incluindo o Congresso.

Na semana passada, Weintraub amargou uma derrota política após o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), devolver medida provisória que dava poderes para ministro da Educação nomear reitores de universidades federais temporariamente durante a pandemia.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-AP), virou um desafeto de Weintraub, chegando-se a chamá-lo de “desqualificado”.

Abraham Weintraub é o sétimo ministro a deixar o governo. Ele estava no cargo desde 8 de abril do ano passado.

Nos últimos dois meses, saíram dois ministros da Saúde (Henrique Mandetta e Nelson Teich) e Sergio Moro, que pediu demissão da Justiça.

A demissão dele representa a segunda troca no MEC em menos de 1 ano e meio de governo. Ele havia substituído Ricardo Vélez, que durou poucos meses no governo.

A gestão de Weintraub à frente do MEC ficou marcada pelo anúncio de projetos que não andaram, derrotas no Congresso, ausência de diálogo com redes de ensino e falta de liderança nos rumos das políticas públicas da área —inclusive durante a pandemia de coronavírus.

A Folha de S. Paulo revelou nesta quinta-feira (18) que a maior parte dos gastos feitos pelo MEC neste ano são de empenhos do ano passado. O quadro revela acentuada ineficiência de gestão de Weintraub: boa parte do dinheiro federal previsto para 2019 não chegou de fato às escolas ou políticas públicas.

O mais marcante, entretanto, foi a postura agressiva e de alto teor ideológico de Weintraub. O tom, que sempre agradou ao presidente, acabou provocando sua saída.

Redação Tem com Folhapress



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