Mãe emagrece 20 quilos durante a gravidez no Norte do Paraná; entenda os motivos
Michelle Munhoz ficou tão fraca que sequer conseguia segurar seu bebê recém-nascido
Um dos maiores sonhos da professora Michelle Munhoz, de 32 anos, era o de se tornar mãe. Quando descobriu que estava grávida, ficou imensamente feliz. Os meses de gestação, porém, foram difíceis e de intenso sofrimento.
Sentia constantes dores pelo corpo, falta de ar e dificuldades para andar. Passava os dias deitada e sem ânimo. Ela relata ter perdido 20 quilos ao longo da gestação. A professora, que mora em Arapongas (PR), procurou diversos médicos para descobrir a origem dos problemas de saúde. “Eles afirmavam que tudo isso tinha a ver com a gravidez”, diz ela.
Os especialistas que atenderam a professora diziam que os problemas enfrentados por ela durante a gestação eram consequências de uma depressão e de enjoos frequentes. “Eu pensei algumas vezes que fosse algo mais grave, mas acabava acreditando no que os médicos diziam.”
O habitual é que as mulheres ganhem peso durante a gravidez, principalmente após os três primeiros meses. O cálculo para definir se uma gestante ganhou peso adequado é feito com base no Índice de Massa Corporal (IMC) — equação que leva em conta o peso e a altura da pessoa.
“O ganho é diferente para cada gestante. Se uma está com o IMC adequado (IMC 18 a 25), ela pode ganhar de 11,5 a 16 quilos. Se ela estiver com baixo peso (IMC menor que 18) poderá ganhar até 18 quilos. Entretanto, as gestantes com sobrepeso ou obesas terão que seguir orientação alimentar, pois o ganho de peso é bem menor”, explica Silvana Quintana, professora do departamento de ginecologia e obstetrícia da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.
Durante o primeiro trimestre da gestação, pode haver casos em que as gestantes percam peso, pois é uma fase em que estão com frequentes náuseas e vômitos, características relacionadas aos elevados níveis hormonais próprios da gravidez. Em geral, a perda de peso — que costuma corresponder, nos níveis mais extremos, a 10% do peso pré-gravidez — cessa ao fim dos primeiros três meses.
“A assistência pré-natal é fundamental para o cuidado da saúde materna e fetal. A cada consulta, a gestante é pesada e é avaliado se o ganho de peso está adequado ou não. No caso de perda de peso, o médico analisa se há motivo para essa diminuição, como vômitos, diarreia, uso de medicamentos que levam a intolerância gástrica etc.”, diz Quintana.
Michelle conta que fez o pré-natal adequado e recebia acompanhamento médico. “Todos os problemas que eu tive foram associados pelos médicos à gravidez.”
O filho da professora nasceu prematuro. Michelle estava completamente fraca e não conseguia segurar o recém-nascido.
Mais de um mês depois, foi a um novo médico, que finalmente a diagnosticou com linfoma de Hodgkin, câncer no sistema linfático, em estágio avançado. “Ele me disse que era um milagre eu e meu filho estarmos vivos.”
Michelle foi diagnosticada com o câncer em estágio quatro, o mais grave. “Não é possível afirmar quando surgiu exatamente. Mas a demora do diagnóstico fez com que ele fosse descoberto em um estágio avançado”, conta. “Na sala do médico, quando ele me contou, eu só conseguia chorar com a cabeça baixa. Parecia uma sentença de morte.”
“Eu sabia que o câncer tinha cura, mas ela estava muito debilitada e como estava em uma fase muito avançada da doença, não sabia se ela ia aguentar o tratamento”, diz o marido.
Em meados do ano passado, quase duas semanas depois da descoberta da doença, ela deu início ao tratamento contra o linfoma.
A hematologista Suelen Rodrigues Stallbaum, responsável pelo tratamento dela contra o câncer, relata que a paciente chegou ao consultório dela completamente abalada. “Ela estava com muito medo e um pouco desacreditada, porque durante toda a gestação falaram que aqueles sintomas dela não eram nada.”
A médica comenta que poderia haver dificuldades para que os médicos identificassem o linfoma durante a gravidez.
O pequeno Samuel não foi afetado pela doença da mãe. “Como é um câncer no sistema linfático, não costuma passar para a criança. O máximo seria a restrição de envio de nutrientes para o bebê, o que não aconteceu no caso da Michelle”, diz a hematologista.
Por seis meses, Michelle fez 20 sessões de quimioterapia. Ela passou diferentes períodos internada. “A primeira quimioterapia foi a mais difícil. Eu estava muito fraca e sofri muito”, relembra. A partir do segundo mês, o cabelo começou a cair. Mas, durante o terceiro mês de quimioterapia, Michelle viveu seu momento “mais especial” até então; ela conseguiu segurar o filho no colo pela primeira vez, sem precisar de ajuda. “Foi uma sensação única.”
Em fevereiro, ela concluiu as sessões de quimioterapia, e o tratamento foi considerado um sucesso. Pelos próximos cinco anos, a professora fará acompanhamento constante para avaliar possível recidiva da doença. “Somente podemos dizer que ela estará curada após esse período.”
Para Michelle, tudo o que viveu desde a gestação pode servir de alerta para outras pessoas. “Descobri que é fundamental buscar respostas quando o organismo não está agindo de forma correta. As pessoas precisam ir atrás de profissionais que realmente cuidem delas e que elas sintam que queiram ajudá-las.”
Redação Tem com G1