Abstenção recorde em Londrina revela desinteresse e rejeição a grupos políticos
Artigo de Bruno Cardial
Neste domingo, Londrina registrou o maior índice de abstenção da história eleitoral da cidade. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 30,94% dos eleitores, ou seja, 123.662 pessoas, não compareceram às urnas no segundo turno. Dos 399.730 eleitores aptos a votar, mais de um terço escolheu se ausentar, refletindo o descontentamento e a rejeição significativa aos dois grupos políticos que disputaram o pleito.
Além das ausências, houve ainda um aumento expressivo nos votos brancos e nulos. Conforme os dados do TSE, 8.058 eleitores (2,92%) votaram em branco, e 12.801 (4,64%) anularam seus votos. Somados, esses números revelam que 144.521 pessoas – 36,2% do total de eleitores – optaram por não contribuir efetivamente na decisão final, seja pela abstenção, pelo voto branco ou nulo.
No primeiro turno, o índice de abstenção já havia sido alto, com 27% dos eleitores, equivalente a 111.016 pessoas, não comparecendo às urnas. Porém, o aumento de quase quatro pontos percentuais entre o primeiro e o segundo turno indica uma tendência de afastamento dos eleitores conforme a disputa se afunilou entre apenas dois candidatos. Este salto na abstenção reflete, de maneira clara, o descontentamento e a falta de representatividade que muitos eleitores sentiram diante das opções finais.
Em números, o total de eleitores que preferiram não participar da decisão final supera a quantidade de votos válidos ao primeiro colocado, pois somados votos brancos e nulos o número é de 144.521 eleitores. Tiago Amaral (PSD) ganhou as eleições com 143.745 votos, Maria Tereza (PP) ficou na segunda posição com 111.464.
Em outras palavras, o desinteresse dos eleitores equivale a mais do que a quantidade de votos que efetivamente decidiram o futuro da administração municipal. Este cenário de abstenção recorde é um alerta para o sistema político local, sinalizando a necessidade de alternativas mais alinhadas com as demandas e expectativas da população.
O contexto sugere que uma parte significativa da população não se sentiu representada pelos candidatos que passaram ao segundo turno, ambos com fortes vínculos partidários e alinhamentos que refletiram na falta de um nome com apelo mais popular ou neutro. Em Londrina, os dois candidatos representam grandes blocos políticos do Paraná que disputaram as maiores prefeituras do Estado, refletindo os cenários de polarização nas esferas estadual e federal.
A candidata Maria Tereza, do partido Progressistas (PP), disputou a eleição em aliança com o Podemos. No Paraná, o PP é liderado por Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde e atual Secretário de Indústria, Comércio e Serviços do Estado. Em Londrina, a liderança local do partido é associada ao prefeito Marcelo Belinati e ao deputado federal Marco Brasil. No entanto, enquanto o PP obteve força legislativa elegendo seis vereadores para a próxima legislatura, o Podemos não conseguiu eleger nenhuma cadeira e seu líder estadual, o deputado Luiz Carlos Hauly, se manteve afastado da campanha de Maria Tereza.
O candidato vencedor, Tiago Amaral, do PSD, partido do governador Carlos Massa Ratinho Júnior, contou com uma coalizão de seis partidos em Londrina, incluindo AGIR, AVANTE, PRD, Partido Liberal (PL) e União Brasil. Essa aliança trouxe apoio da base governista estadual e local, com destaque para figuras como a deputada federal Luiza Canziani e a deputada estadual Cloara Pinheiro. No total, o grupo político aliado a Tiago Amaral reúne 30 deputados estaduais, sendo 17 do PSD e outros 13 de partidos coligados, que incluem União Brasil e PL, o partido que indicou o vice-prefeito eleito, Junior Santos Rosa.
Vale lembrar que para a câmara Municipal, o PL também elegeu seis vereadores, como o PP, porém, a base do prefeito eleito deve ser de doze vereadores, somando-se com os partidos PSD (que elegeu dois vereadores), AVANTE (que elegeu um vereador) e REPUBLICANOS (que elegeu 3 vereadores e declarou apoio no segundo turno).
A polarização entre os grupos de Tiago Amaral e Maria Tereza em Londrina reflete uma disputa maior que se desenha no Paraná e, possivelmente, no cenário nacional, com o PP e o PSD alinhados a possíveis candidaturas ao Senado e até à Presidência da República em 2026. Entretanto, a ausência de um candidato que se destacasse dos grandes blocos políticos parece ter afastado uma parcela significativa dos eleitores em Londrina. Isto inclui também o cenário de ataques e injúrias entre os candidatos que marcaram a reta final do segundo turno.
Sendo em números, o total de eleitores que preferiram não participar da decisão final superior a quantidade de votos válidos computados, o desinteresse dos eleitores equivale a mais da metade da quantidade de votos que efetivamente decidiram o futuro da administração municipal.
Esse cenário de abstenção recorde é um alerta para o sistema político local, sinalizando a necessidade de alternativas mais alinhadas com as demandas e expectativas da população. Assim, temos em Londrina um prefeito eleito com apenas um terço dos londrinenses aptos a votar na cidade, quase um quinto dos 555.965 habitantes.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Tem Londrina.
Bruno Cardial - Tem Londrina