- Jornalismo
- 8 de março de 2021
Mulheres na pandemia: a força do combate a covid-19 em Londrina
Em Londrina, mulheres ocupam lugares importantes no enfrentamento da pandemia.

A data de 08 de março já está mais do que estabelecida enquanto o Dia Internacional da Mulher. A cada ano, essa data vem se fortalecendo como o que verdadeiramente é: um dia de luta pelos direitos das mulheres. Em 2021, a luta torna-se ainda mais necessária frente ao momento de pandemia que o mundo enfrenta há pouco mais de um ano.
Se a pandemia está deixando grandes estragos na vida de todos, no caso das mulheres é ainda pior. Isso porque as mulheres já viviam em condições menos favorecidas em razão da sua condição de gênero, como por exemplo o assédio e a violência sexuais, a dupla jornada de trabalho, a invizibilização do trabalho do cuidado – que se mostrou ainda mais essencial neste momento.
A pesquisa “Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia”, da Gênero e Número e da Sempreviva Organização Feminista, aponta que metade das mulheres brasileiras passou a cuidar de alguém durante a pandemia da covid-19. Já 72% afirmou que aumentou a necessidade de monitorar ou fazer companhia para alguém dentro de casa. Mais uma vez, para a sustentabilidade da vida, as mulheres não pararam, pelo contrário, foram ainda mais exigidas.
E os cuidados ultrapassam as barreiras domésticas, já que na linha de frente do combate ao coronavírus as mulheres também têm se destacado. Em Londrina, elas ocupam os mais diversos cargos e desempenham as mais diferentes funções. Nesta matéria especial do TEM, a gente conversa com algumas dessas mulheres que representam a luta feminina por reconhecimento, espaço e direitos.
Beatriz Tamura: presidente da Associação Médica de Londrina

Formada em medicina há 28 anos pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Beatriz Tamura é especialista em medicina do trabalho e está como presidente da Associação Médica de Londrina pela segunda gestão. Sobre os impactos da pandemia, ela aponta que houve uma mudança radical na rotina como médica do trabalho, já que houve a necessidade de se adaptar para uma realidade de trabalho virtual misto. Um verdadeiro desafio para uma profissão que tem como base o contato direto entre as pessoas.
Sobre a covid-19, Beatriz compartilha as dores de já ter tido familiares e pacientes contaminados. “A realidade diante da pequenez e da fragilidade do ser humano nos faz repensar inúmeros aspectos. Se eu mesmo médica me senti impotente, imagina uma pessoa leiga que não entende bem a necessidade das restrições. Se tem um lado positivo que podemos tirar da pandemia, é que aprendemos a valorizar mais a família, os amigos e a convivência com eles”, afirmou.
Enquanto mulher, Beatriz vai ao encontro da ideia de que o momento foi de sobrecarga e acúmulo de funções para todas as mulheres. Foi preciso conciliar as demandas familiares e profissionais que surgiram com novos desafios. Ela deixa uma mensagem às mulheres neste 08 de março: “As mulheres são um espetáculo! Que possamos juntas nos encontrarmos, nos desenvolvermos e cuidar para não desperdiçarmos o que temos de mais precioso: a vida”.
Fátima Ruiz: enfermeira da linha de frente

Entre as grandes mulheres que atuam no combate a pandemia em Londrina está Fátima Ruiz, enfermeira há 27 anos, que trabalha na linha de frente do Hospital Universitário (HU) e também no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Em janeiro, ela foi símbolo de esperança ao ser a primeira pessoa vacinada contra a covid na cidade.
Fátima acompanha a pandemia desde o começo e relata como as equipes de atendimento foram percebendo o aumento gradual dos casos. Lá atrás, os profissionais chegaram a pensar que em dezembro a situação estaria sob controle. Porém, agora, a pandemia está em seu pior momento, o HU já entrou em colapso e os profissionais trabalham até o esgotamento. “Presenciamos momentos diários de dor e perdas, o que também causa tristeza nos profissionais”, comenta.
Enquanto mulher, ela também relata o aumento das atividades do lar, como “virar professora dos filhos”, conseguir quem cuide das crianças para a mãe poder trabalhar fora. “Meu home office é no hospital ou no Samu. E milhares de mulheres que trabalham na área da saúde vivem situações semelhantes: precisam trabalhar em dobro para suprir desemprego de algum membro da família. Daí restam poucos momentos para cuidados pessoais ou lazer pessoal ou em família”, relata Fátima.
Em meio as dificuldades, a mensagem dela para as mulheres é de amor: “Parabéns a cada mulher, que deve ter orgulho de sua história e suas batalhas, desde cada dona de casa, independente de serem ou não profissionais graduadas. Vocês são especiais”.
Maria Lúcia Lopes: diretora da 17ª Regional de Saúde

Enfermeira de formação há quase 30 anos, Maria Lúcia Lopes é a atual diretora da 17ª Regional de Saúde – entidade responsável pela execução das ações em saúde de 21 municípios. “Nosso trabalho é intenso e de grande impacto, considerando que na nossa regional atendemos, aproximadamente, um milhão de pessoas com distribuição de medicamentos, vacinas e materiais”
A sobrecarga de trabalho também tem sido uma realidade constante para a enfermeira que se vê, muitas vezes, divida entre as necessidades pessoais e profissionais. Neste momento de agravamento da pandemia, uma das maiores dificuldades tem sido não se emocionar frente aos mais diversos sofrimentos. “Um grande desafio tem sido o autocontrole para não chorar em momentos que não seriam adequados. Não somos super-mulheres, não conseguimos dar conta de todas as coisas. Minha estratégia tem sido assumir as limitações para conseguir dar conta do que é prioridade neste momento: cuidar das pessoas”, desabafa.
Neste 08 de março, a mensagem de Maria Lúcia é de reconhecimento das conquistas: “Nós [mulheres] temos assumido lugares inimagináveis até pouco tempo atrás. Hoje, eu estou a frente da 17ª Regional de Saúde, a superintendente do HU é uma mulher, a frente do ICL [Instituto do Câncer de Londrina] temos uma mulher, a diretora da Secretaria Municipal de Saúde é uma mulher, temos prefeitas, vereadoras. Começamos a ocupar nosso papel na sociedade. E somos múltiplas, somos diferentes, precisamos aprender a lidar com as diferenças. A pandemia mostrou isso, não importa quem você é – rico, pobre, homem, mulher -, não há leitos e nós precisamos nos unir. Somos mais fortes juntos”.
Patricia Kurihara: coordenadora médica da UPA Sabará

Outra unidade de saúde que é referência no tratamento a covid-19 em Londrina é a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Sabará. Por lá, a coordenadora médica também é uma mulher: Patricia Mayumi Kurihara, com 11 anos de atuação.
“O trabalho durante a pandemia tem sido bastante exaustivo, físico e mentalmente. No início, em relação a organização de uma referência para casos de covid leve a moderado. Depois, o surgimento dos primeiros casos, dos casos graves, o medo dos colegas de trabalho adoecerem. E agora, nas últimas semanas, com o aumento de pacientes graves e os nossos recursos finitos, o estresse tem sido maior”, comenta a médica.
Os medos que surgem em tempos tão incertos têm sido seu maior desafio, ao lado da necessidade de lidar com a dor de perder pacientes. “[Tem] o próprio medo de adoecer, o de perder as pessoas que a gente gosta, de perder vários pacientes. Outro desafio, é lidar com o sofrimento, é muito difícil para um médico lidar com a perda de paciente”, desabafa.
A médica envia uma mensagem de afeto a todas as mulheres: “Mulher, resumo de força e delicadeza, que nunca cansa de se doar, de cuidar e de fazer o bem, sinta-se abraçada e receba essa homenagem para lembrar da sua importância, que você, mulher, seja homenageada todos os dias com a sua intensidade”.
Fiama Heloisa - Redação Tem