Políticos fazem ‘média’ com poucas doses e cruzam braços para medidas restritivas
Editorial: em imagens que circulam por todo país, é possível ver mais autoridades que doses de vacinas. Enquanto isso, casos e mortes explodem, e medidas restritivas são deixadas de lado.
Quem viu as imagens divulgadas por todo país do início das campanhas de vacinação contra a covid-19, pode ter acreditado que o Brasil vai erradicar a doença mês que vem. Autoridades, de todos os espectros políticos possíveis, posaram para fotos, se aglomeraram e fizeram do momento histórico e importante para o país, mais um instante de pura demagogia.
Com exceção do governador de São Paulo, João Doria (PSBD), único que talvez tenha certo mérito na conquista das vacinas, ainda que fosse sua obrigação como gestor público, o restante nada fez para consegui-la. Nadica. Zero. Quantas autoridades foram a público denunciar explicitamente, não com meias palavras, a incompetência do Governo Federal, do Ministério da Saúde e dos déspotas que governam o Brasil, em meio à pandemia? Quantos? Poucos. Tirando alguns prefeitos que ajudaram a pressionar o governo, por meio de parcerias com o Butantan, e deputados e governadores que cobraram urgência na campanha de imunização, ninguém mais.
O Brasil sempre foi o país mais avançado do mundo quando o assunto é vacinação. Aqui, a imunização é de primeiro nível, ou melhor, era. Já fomos conhecidos internacionalmente por um efetivo Plano Nacional de Imunização, que conseguia atingir mais de 90% do público alvo. Um desafio gigantesco em um país com mais de 200 milhões de habitantes e dimensões continentais.
Na foto, todos saíram. Com bandeira e tudo. De Norte a Sul do Brasil. Meia dúzia de doses, que neste primeiro momento não chega a imunizar nem 1% dos brasileiros e, o que é pior, sem previsão de quando teremos um segundo lote com mais uma mixaria de imunizantes. Não fosse o Instituto Butantan, que correu contra o tempo, nem essa pequena quantidade teríamos.
Quem viu as fotos de autoridades ‘tietando’ os vacinados por todo país, pode ter ficado com a impressão de que a pandemia acabou. Nem aparenta que estamos vivenciando o período mais grave da atual crise sanitária, com o maior número de casos diários e principalmente, o maior número de brasileiros morrendo por dia. Ao invés de ir embora, a verdade “escondida” pelas autoridades é que a pandemia já perdeu o controle. “Tudo sob controle”, dizem. Tudo controlado pelo vírus, claro. Aglomerações transbordam pelo país e a única medida, fora a vacina, que pode salvar vidas, que é distanciamento social, já foi deixada de lado. Quem não é bobo já entendeu o recado dos governantes: salve-se quem puder.
O Estado do Paraná, por exemplo, já soma 500 mil casos confirmados e o triste registro de mais de 9 mil paranaenses mortos. Em Londrina, só nos primeiros 20 dias do ano, 81 londrinenses já perderam a vida para a doença.
Vamos, por um segundo, esquecer o presidente da república, que este é um ser ignóbil, nem deve ser levado em consideração. Vamos falar dos nossos governadores, deputados, prefeitos e vereadores, estes, que bem ou mal, estavam “segurando o rojão”, como diz o ditado popular.
Pelo visto, não seguram mais, já soltaram. Cruzaram os braços enquanto posam para selfies com duas ou três caixinhas com doses de vacinas que não imunizam nem mesmo a total parcela dos heróis da saúde.
Mantenha as medidas de prevenção. Use máscara, lave as mãos, use álcool em gel, fuja de aglomerações, saia de perto dos ‘negacionistas’, fique longe dos amigos baladinhas — esses que vivem como se tudo estivesse normal. O ano está só começando e temos uma longa e triste caminhada pela frente.
Se puder, fique o máximo de tempo em casa. Sobreviva. Deixaram a gente sozinhos, sim, mas nós estamos juntos.
Vinícius Gomes - Redação Tem