Caburé Canela promove encontro do digital com o analógico em 2º álbum

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Caburé Canela, banda londrinense composta por Carolinaa Sanches, Lucas Oliveira, Maria Thomé, Mariana Franco, Paulo Moraes e Pedro José, lança uma série de materiais exclusivos junto ao segundo trabalho de estúdio de sua carreira, Cabeça de Cobre, que está disponível em todas as plataformas de streaming a partir desta sexta-feira (10). O sexteto divulga também um mini-documentário sobre a gravação do disco (assista aqui) e na próxima sexta-feira (17), a partir das 20h, vão transmitir o show de lançamento do álbum pelo canal do grupo do Youtube.

Ouça o novo álbum clicando aqui.

Gravado em processo totalmente analógico no ForestLab (Petrópolis/RJ), o disco tem a produção fonográfica do mineiro Lisciel Franco, conhecido por construir equipamentos e por realizar gravações em uma máquina de 24 canais da década de 80, processando e mixando exclusivamente na fita. Isso, inclusive, foi o que tornou possível percorrer a encruzilhada entre o sintético e o orgânico, proposta definida pela banda desde o início do projeto. Importante ressaltar que o álbum por si só indaga sobre a comunicação nos tempos modernos. “Cabeças sem corpos, hiperconectadas, mas em isolamento maquínico-pandêmico. Pouca solitude vital e muita solidão viral? Excesso da informação e recesso da comunicação? Entre vírus e viralizações, afetos tristes que entram em simbiose com seus hospedeiros. Como transgredir as conexões compulsórias e as vinculações ilusórias?” São questionamentos que surgem no novo trabalho da Caburé Canela”, escreveu o jornalista Felipe Melhado em texto para o grupo.

Capa

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O percurso proposto pelas canções e pelas técnicas de gravação utilizadas, também deixa rastro na arte gráfica do disco. Codificações e reproduções digitais se entrelaçam com processos gráficos analógicos imprevisíveis. Assim como as capas dos singles Fera e Claridade, a arte do álbum foi desenvolvida pelo designer Pablo Blanco e a artista visual Carolinaa Sanches, também vocalista e compositora da banda. “A arte parte de imagens digitais que retratam as cabeças por trás da Caburé Canela. Da norma ao novo, das certezas às sortes, das métricas às margens. Essas imagens dos integrantes são manipuladas e se tornam chapas de alumínio que, a partir daí, participam de processos gráficos artesanais e intensivos”, revela a cantora, que completa: “As capas dos vinis da Cabeça de Cobre serão produzidas individualmente nos ateliês do Grafatório, em uma edição limitada”.

O mini-doc “Bastidores – Cabeça de Cobre” 

Um mini-documentário compartilhando trechos do processo de gravação do disco acompanha o lançamento de Cabeça de Cobre e pode ser assistido aqui. Foram dez dias no estúdio ForestLab, na cidade de Petrópolis, registrados em vídeo pela fotógrafa Paula Viana. Além das imagens de bastidores, o doc traz também uma entrevista com Lisciel Franco sobre gravação analógica, impressões do processo com a Caburé Canela, e sobre os caminhos da música independente. A edição e montagem foi realizada por Lucas Oliveira, que também integra o elenco do sexteto. 

O show 

Diante da atual situação pandêmica, a banda decidiu celebrar o lançamento do novo disco em um show, que será transmitido pelo canal da banda no Youtube, a partir da próxima sexta (17), às 20h — ative lembrete clicando aqui. As dez canções presentes no álbum estão no repertório da apresentação, além de duas versões de faixas do disco anterior, Cabra Cega

“Para transformar em cena a história sonora do álbum, contamos com os figurinos confeccionados exclusivamente pela estilista Bianca Baggio – elaborados a partir de recortes e costuras de tecidos e adereços reaproveitados – e com a iluminação cênica de Everton Bonfim, colorindo a sala preta de espetáculos do SESC Cadeião (Londrina-PR). O cenário foi concebido por Maria Thomé e Paulo Moraes, fazendo um amálgama da matéria sintetizada dos fios de cobre, com a matéria orgânica de flores secas. O registro de vídeo ficou por conta de Stephanie Massarelli e Leon Gregório, que também assina a edição do material. O som foi captado, mixado e masterizado por Gabriel Kruczeveski, do estúdio Toqô. As fotos de divulgação do disco e do show são de Natalia Lima Castro”, pontua Pedro José.

Faixa a faixa

O pontapé inicial do disco é Claridade. O segundo single deste trabalho, que ganhou videoclipe, foi escrito pela vocalista Carolinaa. A inspiração da faixa partiu de uma foto registrada em Superagui, em 2015, e traz à tona sentimentos da época relatada: “É tão trabalhoso acessar nossos desejos, dar voz a eles, escutá-los. Essa música é uma viagem do corpo enquanto nosso espaço mais próximo, é a busca por ser só, mesmo que torta aos olhos de uns; é naufragar em si. E quando a gente se percebe é mais fácil perceber os outros também”, comenta a autora.

Não sei teclar aborda ironicamente a insuficiência das conexões virtuais, em descompasso com a expressão vital coletiva dos corpos. O tema é narrado pelo swing das guitarras que se entrelaçam com slaps de baixo, evidenciando a conversa da cozinha.

A impotência e a resistência diante da grandiosidade da máquina que oprime é o tema discorrido na música Lixo Espacial, que logo nos primeiros segundos de canção, entrega sua influência regida pelo jazz.

Notas de guitarras e percussões orquestradas com as melodias vocais de Carolinaa abrem a quarta faixa, Quantos Ais, que traz o ímpeto onírico de se atirar ao mundo e fundir-se à natureza.

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Fera, escolhida como o single de estreia do álbum, dá voz ao grito possível e inevitável no enfrentamento coletivo ao monstro do sistema que caça a todos. A música veio ao mundo com um videoclipe, dirigido por Fagner Bruno de Souza, e faz uma conexão direta com a mensagem da música, induzindo à reflexão sobre os dias de luta normalizados na sociedade, como uma forma natural de sobrevivência. “No clipe, essa guerra se vê refletida nos rostos das pessoas comuns: caras reais de um país que não pode parar, senão morre de fome. Trabalhadores arriscam suas vidas girando a engrenagem que os esmaga. Máquinas não param de dilacerar a terra. Prédios não param de crescer, nos engolir e nos expulsar”, completa Pedro José.

Mantra Caosmico, “é uma canção na qual poeticamente se perde a definição do eu e do outro, do macro e do micro, e sonoramente, se perde a definição de tonalidade, ritmo e textura, as diferenças entre os instrumentos se borram numa paisagem ruidística onde tudo se dissolve”, diz Pedro José. A faixa começa com instrumentos eletrônicos, e termina com instrumentos acústicos, fazendo a transição entre o universo sonoro do LADO A para o LADO B do álbum, que pretende ter versão em vinil.

Dicionário deixa claro o início de uma nova parte do disco ao trazer um funk-ijexá que ironiza o entendimento acadêmico desconectado da vida e do poder concreto dos símbolos. 

Na sequência vem à faixa Viril, que carrega um tom de tropicália, fazendo um convite para o ouvinte mexer o corpo, e ser teletransportado para uma pista de dança de festas brasileiras dos anos 60. “A música carrega uma mensagem de liberdade, de encaramento e quebra de padrões, culminando em um encontro semelhante aos festejos da cultura popular, que evocam forças e ensinamentos ancestrais para dar conta do hoje”, comenta Carolinaa Sanches

Dedilhados tão suaves, quanto às vozes de Carolinaa e Pedro, anunciam a canção Epifania. Influenciados pelo samba, “a música traz de volta à vida um corpo perdido no mar que, presenteado pela recordação do fim, pode integrar-se mais intensamente ao mundo do qual é parte”, descreve o guitarrista. 

“Esse mundo que aglutina tudo que conhecemos e desconhecemos é representado na insignificância e beleza de um minúsculo ponto reluzindo no universo, na décima canção que encerra o disco, Ponto Pálido”, resume Pedro José.

Redação Tem com Assessoria