Vamos refletir sobre a questão do aborto

No último 18 de junho a Argentina deu um passo histórico na direção dos direitos reprodutivos das mulheres, aprovando na Câmara dos Deputados a legalização do aborto seguro e gratuito. Lembrando que a Argentina é um país de forte tradição católica, o atual Papa é argentino, embora progressista, a nação é fortemente conservadora. Mas diante dos vários debates públicos e das reais necessidades que envolvem o mundo feminino, aprovaram o projeto, aguardando a votação no Senado.”

No Brasil, o tema ainda aparece como tabu. O tema aflora os sentimentos de piedade, de compaixão, tristeza pelo feto e ódio contra quem defende a liberdade da interrupção da gravidez. E aqui está um problema: discutir um tema tão sério e importante como esse com base em sentimentos pessoais e crenças religiosas, quando o tema exige muita racionalidade, reflexão e observação de casos reais do cotidiano. Os contrários ao aborto repetem incansavelmente que os dados apresentados são falsos, afirmam também que o aborto interessa a multinacionais que ganhariam muito dinheiro com os procedimentos. Mas quem vivencia a realidade dessas mulheres e quem faz pesquisa séria e honesta apontam dados irrefutáveis acerca da terrível realidade.

Um fato que não se pode negar é que a proibição e/ou criminalização não evitam que mulheres de todas as idades e estratos sociais abortem. A criminalização não impede o aborto, mas faz com mulheres morram em procedimentos clandestinos. A proibição não faz uma mulher repensar se deve ou não fazer o aborto, mas coloca mais peso sobre a mulher que já está fragilizada, pois tem que levar como segredo para o resto da vida. Portanto, discutir seriamente a descriminalização do aborto passa necessariamente por questões éticas e de saúde pública.

O Superior Tribunal Federal propôs uma audiência pública sob a coordenação da Ministra Rosa Weber que aconteceu nos dias 03 e 06 de agosto. Foram dois dias riquíssimos de debate, análise e testemunhos. Argumentação de pesquisadoras nas aéreas de bioética, antropologia, medicina, feminismo, direito e religião. Um fato que marcou todo o debate foi o recorte de raça e condição de existência, para além de toda a questão que é comum a todas. Isso quer dizer que a questão do aborto para mulheres negras e mulheres com deficiências é muito mais difícil, mas não nos damos conta, pois este fato foge da realidade existencial de muitos de nós.

Por mais que eu me expresse, argumente e tente explicar meu ponto de vista não alcançaria um décimo da riqueza apresentada pelas debatedoras nesta audiência pública. Assim, deixo para vocês assistirem a três argumentações que para mim foram as mais fundamentais.

* Dra. Débora Diniz, antropóloga, professora da Universidade de Brasília e pesquisadora do Instituto de Bioética. Após sua argumentação na audiência recebeu ameaças de morte de um homem da região de Curitiba.

* Reverenda Dra. Lusmarina Campos Garcia, pastora evangélica de Confissão Luterana. Graduada em Teologia, Direito e Ciências Sociais. Atuante do Movimento Ecumênico pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI-Genebra).

* Dra. Adriana Abreu Magalhães Dias. Antropóloga, indicada pelo Instituto BARESI para falar como representante das pessoas com deficiência e doenças raras.

No contraponto segue o discurso daqueles que se dizem pró-vida:

Reprodução / Facebook

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Edson Elias

Inquieto, curioso e em processo constante de desconstrução e reconstrução. Vivo a contradição do humanismo cético e a religiosidade por meio da racionalidade. Procuro compreender e refletir sobre a realidade social e política para melhor atuar e desvelar os falseamentos, contradições e assimetrias. Refletir criticamente é uma subversão, pois tem a capacidade de questionar a ordem estabelecida das coisas que tendem a ocultar as relações de poder, controle e dominação.

Doutorando em Ciências Sociais (UNESP-Marília); Mestre e Graduado em Ciências Sociais (UEL-Londrina); Professor na área de Sociologia e pesquisador na área de Sociologia da Religião.


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