‘Sair do isolamento agora é querer voltar a mundo que não existe mais’, diz Atila Iamarino

Biólogo participou do "Roda Viva" nesta segunda-feira (31).

Convidado da noite desta segunda-feira (31) no Roda Viva, o biólogo e pesquisador Atila Iamarino defendeu que o Brasil mantenha o isolamento para não chegar ao ponto em que chegou a Espanha, hoje o segundo país com maior número de mortos em decorrência do novo coronavírus. Segundo ele, as medidas de quarentena aplicadas pela maioria dos governadores e prefeitos nos estados contribuiu para que a disseminação do contágio diminuísse a tempo.

“Apesar de não ter testes aqui, o Brasil começou com crescimento relativamente igual ao da Espanha, com o número de casos dobrando a cada três dias, o que acontece quando você tem mais de um centro epidêmico no país”, disse ele.

Como os casos na Espanha tiveram início antes, diz o pesquisador, é possível vislumbrar qual seria o futuro do país caso o isolamento não tivesse sido aplicado por alguns estados.

“Só que a gente entrou no ciclo de infecções duas semanas ou três depois da Espanha. Então, a Espanha de agora é o futuro para onde o Brasil estava rumando se não tomasse as medidas que tomou há uma semana, duas. Se chegar em abril e a gente não tiver chegado na situação da Espanha, de ter leito faltando em hospital, ter que colocar corpo em necrotério e câmara refrigerada, ter os velhinhos morrendo em casa, é resultado da ação direta de ter parado agora”, defendeu.

O pesquisador já havia deixado claro, no início do programa, se tratar de uma ação tomada “pela maioria dos estados”.

Para ele, interromper agora as medidas de isolamento contra o coronavírus “é querer voltar a uma realidade que não existe mais”.

O mundo (e o Brasil) mudaram com a disseminação do vírus, e a preocupação de governos e empresas agora deveria ser a de se preparar para esta nova realidade, disse.

“Existe uma preocupação séria com a economia, claro. E uma preocupação legítima seria a de como adequar a economia a essa nova realidade (imposta pelo vírus). O que a gente pode fazer para que os comércios consigam vender online e fazer entregas da melhor maneira possível; o que a gente pode fazer para que as pessoas consigam trabalhar à distância da melhor maneira possível”.

“Que medidas econômicas a gente pode tomar para que as pessoas continuem em casa e continuem com uma vida produtiva”.

“Mas quem ainda está pensando em não deixar a economia atual desandar, na verdade, está tentando resgatar um mundo que não existe mais. Que é o mundo de janeiro de 2020. O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronavírus) não existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou essa nova realidade”.

Nos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alguns empresários têm insistido na necessidade de restabelecer o funcionamento do comércio e de outros serviços.

O consenso entre cientistas da área, no entanto, é de que é fundamental manter medidas de isolamento social por enquanto, diz Atila — inclusive para ganhar tempo a fim de trabalhar em alternativas.

“Manter as medidas que a gente tem agora é o que vai fazer dar tempo para buscarmos outras medidas lá na frente. Na verdade, parar agora é ganhar o tempo para fazer escolhas”, diz ele.

Atila se tornou conhecido por sua participação em um canal de YouTube. Nos últimos dias, tem feito transmissões ao vivo sobre o novo coronavírus.

Uma delas atingiu a marca de 5,2 milhões de visualizações em menos de uma semana e fez com que o nome do biólogo chegasse à lista de assuntos mais comentados pelos brasileiros no Twitter.

Redação Tem



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