Isolamento provocado pelo coronavírus incentiva a disseminação de fake news; saiba como se prevenir

Especialistas analisam como se formam as notícias falsas e indicam hábitos saudáveis de troca de informações em meio à crise da covid-19.

Notícias falsas sobre doença pode confundir população – Foto: Reprodução/Getty

A pandemia do coronavírus tem afetado o Brasil fortemente nas últimas semanas. O isolamento social tem sido apontado pelas autoridades de saúde como a principal estratégia para conter o avanço da covid-19. Presos em casa e com acesso a um transbordo de informação, algumas pessoas têm recebido e disseminado uma enxurrada de notícias falsas. 

No dia 20 de março, na iminência da validade do decreto que determinou o fechamento do comércio e levou ao isolamento social, o Gaeco de Londrina, em parceria com o Ministério Público, investigou um áudio que apontava uma situação falsa no HU (Hospital Universitário) de Londrina. A informação era de que haviam três crianças entubadas com coronavírus e que os casos estavam sendo omitidos. A autora do áudio foi identificada e fez um segundo comunicado via redes sociais se retratando, desta vez, justificando a atitude com o desespero da situação do isolamento e o recebimento de muitas notícias falsas. 

Para o pesquisador e professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) André Azevedo, as novas ferramentas de comunicação tecnológicas foram desenvolvidas rapidamente e os usuários ainda não aprenderam a lidar com a troca de informação. Desta forma, as redes sociais acabam provocando o desejo de postar, compartilhar e comentar tudo.

Foto: Reprodução

Ananda Kenney é psicóloga e também professora da UEL. Ela acredita que a fake news tem uma conexão direta com pressão da era da informação. “Existe a necessidade de se sentir útil socialmente e isso faz com que você repasse muitas informações. Às vezes, até pelo desespero de cuidar do outro, peca pelo excesso. Também existe a busca por reconhecimento. Ao mandar uma informação atualizada, as pessoas te reconhecem como alguém importante, que contribuiu”, analisa a professora.

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“Muita gente se enxerga como alguém com uma missão de convencer o mundo de que ela está certa e, para isso, faz de tudo, inclusive mentir”.

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Em meio a um cenário delicado, como o de uma pandemia, André destaca que “muita gente se enxerga como alguém com uma missão de convencer o mundo de que ela está certa e, para isso, faz de tudo, inclusive mentir”. Segundo o pesquisador, esta prática está diretamente ligada a uma crença pessoal, política ou ideologia por um motivo maior. 

Informação falsa legitima discursos

O Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), diferentemente da postura de outros estadistas, tem encarado a crise do coronavírus como algo simples e sem necessidade de isolamento. Bolsonaro teve publicações apagadas pelo Twitter, Facebook e Instagram nesta segunda-feira (30) por conter informações contra a saúde pública e colocar pessoas em maior risco de transmitir covid-19.

Apesar do presidente, Ministério da Saúde, mantém orientações técnicas e científicas – Foto: Reprodução

Para André, a população precisa de referências para não ficar refém de pessoas com uso hábil da retórica, para que discursos emocionados e indignados não se transformem em verdade. Além disso, “dirigentes precisam assumir responsabilidades acima de seus interesses ou desejos pessoais”, aponta o pesquisador.

Em uma situação singular como o provocado pelo coronavírus, Ananda reforça que, mais importante do que repassar informação, é preciso ler e construir uma análise crítica sobre o assunto e a mensagem que está exposta. 

Isolamento social e troca de informações

Notícias falsas cresceram nos últimos dias – Foto: Reprodução

No dia 19 de março, o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), assinou decreto determinando o fechamento do comércio, bares e restaurantes, com o objetivo de incentivar o isolamento social, já que o município segue as principais determinações de órgãos e autoridades em saúde para prevenir a transmissão do coronavírus. 

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“As pessoas têm dificuldade de encontrar uma rotina dentro do seu lar. O isolamento vem por uma condição externa, a pessoa se vê presa dentro de casa, tendo que responder a um excesso de informação”.

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Ananda afirma que, junto com o isolamento social, vem naturalmente o desespero provocado pela situação. “As pessoas têm dificuldade de encontrar uma rotina dentro do seu lar. O isolamento vem por uma condição externa, a pessoa se vê presa dentro de casa, tendo que responder a um excesso de informação. Estas informações precisam ser cada vez mais atualizadas e, nessa nova forma de rotina, existe uma compulsão por responder ao que a gente vive socialmente”.

Para evitar a propagação de fake news e fazer uma troca de informação saudável, a psicóloga elencou alguns pontos:

1 – Evitar ficar conectado o dia todo em redes sociais;

2 – Assistir e/ou ler mais que um jornal;

3 – Ler mensagens de WhatsApp até o final e pensar sobre o assunto antes de repassar; 

4 – Pesquisar sobre o assunto que você leu. 

É necessário ter cuidado com os conteúdos recebidos – Foto: Reprodução

Já para o pesquisador em comunicação, é importante desconfiar de tudo que vem através de mensagens instantâneas e dar preferência para veículos tradicionais da imprensa. “Os jornais são essenciais para que a população se informe sobre os problemas e medidas necessárias para se cuidar. A imprensa tem trabalhado muito, então, é uma fonte mais segura que um WhatsApp”, finaliza André.

Laisa Oliveira - Redação Tem



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