Londrinenses criam respiradores com tecnologia inédita e baixo custo

Produção ficou 30% menor que a convencional – Foto: Divulgação/Jirehmaq

Uma companhia de automação de Londrina vai contribuir no combate de uma das maiores carências nos hospitais que estão lotados de pacientes vítimas do novo coronavírus: a falta de ventiladores mecânicos.

Os empresários Rômulo Martins Petruy e Thiago Abrão Lopes, responsáveis por desenvolver um ventilador mecânico com tecnologia 100% “made in Londrina”. Já o nome de batismo do equipamento e a voz feminina foram essenciais para dar início ao projeto, que começou como uma prova de amor.

O modelo AGP -2020 levou 40 dias para sair do papel e se materializar no primeiro protótipo, que já está em fase de testes. O equipamento traz várias inovações em relação aos ventiladores que estão hoje nos hospitais e também aos que os governos estaduais e federal têm tentado importar.

Tecnologia própria

A primeira preocupação dos empresários londrinenses foi a de não depender de peças importadas, principal causa hoje do atraso da entrega do equipamento. “A maior dificuldade das fabricantes de equipamentos no Brasil foi ter concentrado o fornecimento de peças importantes para seus projetos em países, como China, Itália e Estados Unidos, entre outros. Quando fomos conceber nosso projeto, já sabíamos que não poderíamos usar itens normais para fabricação de respiradores.

Assim, nos concentramos no desenvolvimento de tecnologia própria, utilizando peças alternativas que existem em abundância no mercado nacional. Tudo, é claro, sem descumprir nenhuma exigência requerida em um ambiente hospitalar de UTI”, explica Rômulo Petruy, que trabalha há 30 anos na área de automação e, como autodidata, já desenvolveu várias tecnologias para indústrias de alimentos, tintas e extintores.

A pesquisa para a criação do equipamento consumiu jornadas de pesquisas e testes de até 19 horas diárias, inclusive aos fins de semana. Com o apoio do Hospital do Câncer de Londrina e Secretaria Municipal de Saúde, também foram consultados vários profissionais da área, como enfermeiras, fisioterapeutas, médicos intensivistas e técnicos de manutenção. Rômulo e Thiago foram ainda conhecer de perto o funcionamento de ventiladores mecânicos no Hospital do Coração e Samu Aéreo.

“Mesmo quando conversávamos com os profissionais de manutenção desses equipamentos e escutávamos que seria impossível, a não ser que criássemos um ventilador igual ou melhor aos existentes – não desânimos. Na verdade, o desafio de poder ajudar a salvar vidas nos deu ainda mais força”, conta Rômulo Petruy.

Monitoramento à distância

A operação do AGP-2020 é realizada através de uma tela de touch que exibe todos os controles. Entre as principais inovações, estão os alarmes emitidos sobre o estado de saúde. No lugar de campainhas ou sinais, uma voz gravada detalha exatamente qual a necessidade do paciente. Esse sistema de comunicação, que possibilita uma intervenção mais precisa, não está disponível em nenhum outro modelo do mundo.

O blender interno automático, “cérebro” que comanda todas as operações do equipamento, foi totalmente desenvolvido pela Jirehmaq. O modelo terá integração com um aplicativo que vai permitir ao profissional intensivista acompanhar à distância tanto a operação do ventilador quando o estado de saúde do paciente.

Outra qualidade do AGP-2020 é sua composição em aço inox, material que possibilita uma durabilidade superior aos existentes, além de facilidade na manutenção e limpeza.  

Custo mais baixo

A Jirehmaq está preparada para operar com uma capacidade inicial de produção de 200 unidades/mês. Já a partir do segundo mês há um plano de expansão para trabalhar em três turnos e produzir mensalmente, pelo menos, 500 equipamentos.

“Essa alta capacidade produtiva se deve ao fato de termos projetado o equipamento de forma diferente. Vamos valorizar a mão de obra de nossa cidade, terceirizando a produção de várias peças com empresas londrinenses. Vamos distribuir trabalho, gerar renda e, o mais importante, salvar vidas”, aponta Thiago Lopes.

As estimativas de custos apontam que o modelo deve ficar, no mínimo, 30% mais barato do que os similares nacionais e importados, que tiveram os preços disparando em mais e 200% após a explosão da pandemia.

Testes em hospitais

O ventilador mecânico AGP-2020 será testado em hospitais já nos próximos 10 dias. O primeiro teste será no Hospital do Câncer de Londrina, que vem apoiando o desenvolvimento do projeto desde o início. O equipamento necessita de três laudos técnicos de diferentes instituições para ser homologado pelo Ministério da Saúde.

“Estamos em contato direto com o Ministério da Saúde, que está nos acompanhando e sendo informado que todas as etapas exigidas para o fornecimento dos equipamentos serão cumpridas. Já estamos nas etapas finais e acreditamos que, nos próximos 10 dias, tenhamos cumprido todos os trâmites documentais para início das atividades”, destaca Rômulo Petruy.

A voz feminina que será ouvida nos alarmes de ventilador mecânico da Jirehmaq é de Andrea Gasperi Petruy, que também são as iniciais do equipamento. Foi para proteger sua mulher, que tem bronquite e faz parte do grupo de risco da Covid-19, que Rômulo Martins encarou o desafio de desenvolver o projeto com tecnologia própria.

“Em meados de março, quando estourou mesmo a pandemia, estávamos de férias no litoral paranaense. Acompanhando os jornais e por trabalhar na área da saúde, minha esposa ficou apavorada com a falta de ventiladores devido à disseminação da doença. Foi quando eu disse a ela: ‘Calma! O seu ventilador eu vou fabricar.’ Na verdade, comecei o projeto por amor a ela, mas logo percebi que poderia salvar outras pessoas também. Assim, desde o dia 25 de março eu e meu sócio Thiago estamos trabalhando para isso”, conclui Rômulo Petruy.

Redação Tem com Assessoria



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